Depois de classificar Oscar Niemeyer, no dia de sua
morte, como “metade gênio, metade idiota”, ganhando, assim, o apelido de “rola-bosta”,
o blogueiro neocon Reinaldo Azevedo agora define o ex-líder venezuelano como
100% idiota
247 –
Em Reinaldo Azevedo, blogueiro neocon de Veja, o apelido “rola-bosta”,
conferido por Leonardo Boff no dia em que o jornalista definiu Oscar Niemeyer
como “metade gênio, metade idiota”, grudou feito tatuagem. Insatisfeito
com a notoriedade, Reinaldo agora repete a argumentação, para sustentar que
Hugo Chávez era 100% idiota. Leia abaixo:
A morte de Hugo Chávez revela que estamos
vivendo dias um tanto sombrios. Os valores da democracia estão em crise. Basta
ler o noticiário para constatá-lo. Chego à conclusão de que os idiotas e os
simpatizantes de tiranias supostamente virtuosas estão no comando de alguns
veículos da imprensa, ainda que eles próprios dependam vitalmente da liberdade.
Por que escrevo isso? Vamos ver.
A antiga pauta de esquerda — a revolução
socialista — foi definitivamente aposentada. Assumiu, ao longo do tempo, uma
nova configuração, bem mais fragmentada. Vivemos sob o signo da reparação das
chamadas “injustiças históricas”: com os pobres, com os negros, com os indígenas,
com as mulheres, com os gays, com os quilombolas, com a natureza… Escolham aí.
A cada pouco surge uma nova “minoria” — sociologicamente falando — disposta a
impor a sua pauta como precondição para a justiça universal. É evidente que não
tenho nada contra a justiça, ora bolas! Por que não seria eu também um homem
tão bom quanto os ciclistas, por exemplo? É claro que sou! É alguém me falar do
bem, do belo e do justo, e estou dentro, estou com os bacanas.
Se todo mundo quer um mundo perfeito, não serei
eu a ficar fora dessa festa. A questão é saber como essas reparações todas
serão realizadas no âmbito da democracia, de uma sociedade de direito, que
respeite os direitos individuais. Governar com ditadura é fácil; com democracia
é que é o “x” do problema.
Cansei de ler nestes dois dias alguns
raciocínios perigosos. Eles consistem basicamente na aceitação tácita de que a
melhoria de alguns indicadores sociais na Venezuela — e houve — estão atreladas
ao “modelo” inventado por Hugo Chávez. O desemprego, com efeito, caiu de 14,5%
em 1999, quando ele chegou ao poder, para 8% no ano passado. Mas também chegou
a 18% em 2003, no seu quinto ano de governo. Já a inflação era de 29,9% em
1998, quando ele foi eleito pela primeira vez, e chegou a 33% no ano passado. O
seu menor índice foi em 2001, com 12%. O IDH subiu de 0,656 para 0,735 em 2011
e passou, por exemplo, o do Brasil.
Não é segredo para ninguém que Chávez usou o
dinheiro farto do petróleo para empreender um forte programa assistencialista.
E é esse assistencialismo que garante a adesão entusiasmada dos mais pobres a
seu governo. Também é claro as ditas elites tradicionais da Venezuela estavam
entre as mais corruptas e socialmente insensíveis do mundo — o que acaba
facilitando a emergência de líderes com o seu perfil. Vale para a Venezuela, a
Bolívia, o Equador… Mas a rapacidade das ditas-cujas justifica o modelo
bolivariano?
Chávez tomou, sim, iniciativas que minoraram o
sofrimento dos mais pobres. Isso não está em debate. A questão é saber por que
ele precisava da ditadura. A questão é saber por que ele precisava apelar a um
regime de força. Essas perguntas não têm resposta porque simplesmente a
pantomima bolivariana era desnecessária. Lula também tentou impor alguns
instrumentos de exceção no Brasil. Não conseguiu — não ainda ao menos. E nada
impediu o petismo de levar adiante a sua lenda.
O presente que corrói o futuro
Chávez transformou a Venezuela no, se me permitem, país da manocultura do petróleo. Estão lá 25% das reservas mundiais do óleo. Enquanto ele for uma matriz energética — e será ainda muito tempo —, é evidente que o país contará com dinheiro para manter as políticas assistencialistas, ainda que produza muito menos do que pode. Notem: essas políticas não são um mal em si. Mas para que futuro apontam quando se tornam um fim em si mesmas?
Chávez transformou a Venezuela no, se me permitem, país da manocultura do petróleo. Estão lá 25% das reservas mundiais do óleo. Enquanto ele for uma matriz energética — e será ainda muito tempo —, é evidente que o país contará com dinheiro para manter as políticas assistencialistas, ainda que produza muito menos do que pode. Notem: essas políticas não são um mal em si. Mas para que futuro apontam quando se tornam um fim em si mesmas?
Apontam para o desastre. Chávez acabou com o que
havia de agricultura de ponta na Venezuela, por exemplo. O país não produz mais
comida. Expropriou empresas estrangeiras, espantou o capital privado e
transformou milhões de venezuelanos em estado-dependentes. Sem a diversificação
da economia — impossível no regime bolivariano —, assim continuarão. O petróleo
responde por 50% das receitas do governo e constitui quase 100% da receita de
exportação. Nas palavras do economista venezuelano Moisés Naim ao Wall Street
Journal: “Nunca um líder latino-americano perdeu tanto dinheiro, gastou tão mal
os recursos e usou de maneira tão incorreta o poder que lhe foi dado”. Na
mosca!
Os tontos
Não, senhores! O autoritarismo de Chávez não era uma espécie de mal necessário a justificar, então, um bem — a saber: a redução da pobreza e a diminuição da desigualdade. Esse e um juízo delinquente e está na raiz, diga-se, das exegeses malandras sobre o 54 anos da ditadura cubana. Durante décadas, o suposto bem-estar social de Cuba serviu para ocultar os crimes dos irmãos Castro. Pelo menos cem mil pessoas morreram (17 mil fuziladas; as demais tentando fugir da ilha) sob o silêncio cúmplice do resto do mundo para que se construísse por lá aquele paraíso…
Não, senhores! O autoritarismo de Chávez não era uma espécie de mal necessário a justificar, então, um bem — a saber: a redução da pobreza e a diminuição da desigualdade. Esse e um juízo delinquente e está na raiz, diga-se, das exegeses malandras sobre o 54 anos da ditadura cubana. Durante décadas, o suposto bem-estar social de Cuba serviu para ocultar os crimes dos irmãos Castro. Pelo menos cem mil pessoas morreram (17 mil fuziladas; as demais tentando fugir da ilha) sob o silêncio cúmplice do resto do mundo para que se construísse por lá aquele paraíso…
Mas os tempos — e então volto ao ponto central
deste texto — andam simpáticos às ideias de reparação a qualquer preço. Se
Chávez sucedeu as ditas “elites insensíveis” de antes, então tudo lhe seria
permitido, inclusive a violação dos fundamentos mais comezinhos da democracia
e, não custa notar, do direito internacional. Nem mesmo se pergunta o óbvio:
como poderia estar hoje a Venezuela se ele não tivesse destroçado a economia do
país? Os ditos programas sociais poderiam estar em vigência, certo? Por que não?
Talvez houvesse menos venezuelanos trabalhando para órgãos estatais ou
dependentes da ajuda oficial. Certamente o povo seria mais livre.
Chávez distribuiu, sim, parte da riqueza do
petróleo por intermédio desses programas, com os quais cevou o eleitorado. Mas
roubou, e por muitos anos, o futuro do país, que terá de ser reconstruído — a
começar das instituições.
Exportador da “revolução” e importador do terror
Cumpre lembrar, ainda, do Chávez “exportador da revolução”. Meteu as patas no Equador, na Bolívia e até na Argentina. Enviou uma mala com US$ 800 mil para ajudar a financiar a primeira eleição de Cristina Kirchner. Inspirou a tentativa de golpe em Honduras e depois tentou articular, com a ajuda do Brasil, uma guerra civil naquele país. Armou, isto ficou comprovado, os narcoterroristas das Farc, da Colômbia, e se fez seu interlocutor privilegiado. Em Caracas, há uma praça com o nome do fundador do grupo: Manuel Marulanda. Atenção! Quando o coronel tentou dar um golpe na Venezuela, em 1992, os narcoterroristas lhe enviaram 100 mil pesos — mais ou menos US$ 50 mil à época. No poder, o ditador repassou para os bandidos estupendos US$ 300 milhões. As informações estavam no laptop do terrorista morto Raúl Reyes.
Cumpre lembrar, ainda, do Chávez “exportador da revolução”. Meteu as patas no Equador, na Bolívia e até na Argentina. Enviou uma mala com US$ 800 mil para ajudar a financiar a primeira eleição de Cristina Kirchner. Inspirou a tentativa de golpe em Honduras e depois tentou articular, com a ajuda do Brasil, uma guerra civil naquele país. Armou, isto ficou comprovado, os narcoterroristas das Farc, da Colômbia, e se fez seu interlocutor privilegiado. Em Caracas, há uma praça com o nome do fundador do grupo: Manuel Marulanda. Atenção! Quando o coronel tentou dar um golpe na Venezuela, em 1992, os narcoterroristas lhe enviaram 100 mil pesos — mais ou menos US$ 50 mil à época. No poder, o ditador repassou para os bandidos estupendos US$ 300 milhões. As informações estavam no laptop do terrorista morto Raúl Reyes.
É pouco? Chávez celebrou acordos de cooperação
militar E NUCLEAR com o Irã, e o Hezbollah, movimento terrorista baseado no
Líbano e que é satélite do país dos aiatolás, estabeleceu uma base de operações
na Venezuela.
As relações do estado venezuelano com o
narcotráfico também já estão mais do que evidenciadas. Em abril do ano passado,
o juiz Eladio Aponte Aponte, da Corte Suprema do país, fugiu para a Costa Rica.
Pediu para entrar no sistema de proteção que a agência antidrogas dos EUA
oferece aos delatores considerados importantes. Confessou que, a pedido do
governo, atuou para proteger o narcotráfico. Nada menos de metade da cocaína
que entra nos EUA tem origem na Venezuela. Leiam trecho de reportagem de O
Globo de 7 de maio de 2012
[o juiz] deu como exemplo um caso no qual está
envolvido um ex-adido militar venezuelano no Brasil, o tenente-coronel Pedro
José Maggino Belicchi. Segundo o juiz-delator, Maggino Belicchi integra a rede
militar que há anos utiliza quartéis da IVª Divisão Blindada do Exército da
Venezuela como bases logísticas para transporte de pasta-base e de cocaína
exportadas por facções da Farc, a narcoguerrilha colombiana. O tenente-coronel
foi preso em flagrante no dia 16 de novembro de 2005, com outros militares,
transportando 2,2 toneladas de cocaína em um caminhão do Exército (placa
EJ-746).
Na presidência da Suprema Corte, Aponte Aponte diz ter recebido e atendido aos apelos da Presidência da República, do Ministério da Defesa e do organismo venezuelano de repressão a drogas para liberar Magino Belicchi e os demais militares envolvidos. Faz parte da rotina judicial venezuelana, ele contou na entrevista à televisão da Costa Rica.
O general Henry de Jesus Rangel Silva, citado pelo juiz-delator, comandou a Quarta Divisão Blindada, uma das unidades mais importantes do Exército venezuelano. Desde 2008, ele figura na lista oficial de narcotraficantes vinculados às Farc colombianas e cujos bens e contas bancárias estão interditados pelo governo dos Estados Unidos. Em janeiro, o presidente Hugo Chávez decidiu condecorá-lo em público e promovê-lo ao cargo de ministro da Defesa. “Rangel Silva é atacado”, justificou Chávez em discurso.
(…)
Na presidência da Suprema Corte, Aponte Aponte diz ter recebido e atendido aos apelos da Presidência da República, do Ministério da Defesa e do organismo venezuelano de repressão a drogas para liberar Magino Belicchi e os demais militares envolvidos. Faz parte da rotina judicial venezuelana, ele contou na entrevista à televisão da Costa Rica.
O general Henry de Jesus Rangel Silva, citado pelo juiz-delator, comandou a Quarta Divisão Blindada, uma das unidades mais importantes do Exército venezuelano. Desde 2008, ele figura na lista oficial de narcotraficantes vinculados às Farc colombianas e cujos bens e contas bancárias estão interditados pelo governo dos Estados Unidos. Em janeiro, o presidente Hugo Chávez decidiu condecorá-lo em público e promovê-lo ao cargo de ministro da Defesa. “Rangel Silva é atacado”, justificou Chávez em discurso.
(…)
Encerrando
Alguns indicadores sociais da Venezuela melhoraram, sim. É obrigação dos governos. O mesmo se deu em países que se mantiveram no rumo democrático. A ditadura, pois, foi uma escolha de Chávez e de sua camarilha que independe dessa ou daquela medidas.
Alguns indicadores sociais da Venezuela melhoraram, sim. É obrigação dos governos. O mesmo se deu em países que se mantiveram no rumo democrático. A ditadura, pois, foi uma escolha de Chávez e de sua camarilha que independe dessa ou daquela medidas.
O cem por cento idiota deixa um país com as
instituições em frangalhos, com a economia combalida, com uma inflação da ordem
de 30%, infiltrado pelo terrorismo e pelo narcotráfico. O homem que morre,
reitero, merece piedade, como qualquer um. O ditador, no entanto, nunca deveria
ter existido. A América Latina está mais sã. Agora é preciso desalojar, pela
via democrática e pela luta política, a camarilha criminosa que está no poder.
Fonte –
Brasil247
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