23 de maio de 2012

50 anos do Pagador de Promessa I




Há exatos 50 anos, o cinema brasileiro ganhava a Palma de Ouro do Festival de Cannes com o longa-metragem O pagador de promessas, dirigido por Anselmo Duarte. O filme conquistou a simpatia do júri do festival, que preteriu obras como O anjo exterminador (Luis Buñuel), Electra, a vingadora (Michel Cacoyannis) e O eclipse (Michelangelo Antonioni), entre outros, que concorriam na seleção oficial. Apesar de ganhar o prêmio máximo do mais importante festival de cinema do mundo, Anselmo Duarte passou a vida reclamando do boicote dos cineastas do Cinema Novo, que nos anos seguintes levariam a bandeira do cinema brasileiro mundo afora. Em várias ocasiões, Duarte revelou que eles invejavam seu feito e atrapalharam sua carreira de diretor.
Até a sua morte, em 7 de novembro de 2009, Anselmo Duarte cultivou uma profunda mágoa em relação àqueles que questionavam a importância do prêmio de O pagador de promessas na história do cinema brasileiro. Ninguém confirmou, até hoje, a veracidade da inveja dos cinemanovistas, que levaram para Cannes, dois anos depois, os fundamentais Deus e diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, e Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos.

Anselmo Duarte teve a ideia de adaptar O pagador de promessas para o cinema em 1961, quando voltou ao Brasil depois de uma longa temporada em Paris. Ele deixou o País no auge do sucesso de Absolutamente certo, em que também atuava, para estudar cinema no Idhec (o antigo Institut des Hautes Études en Ciné, hoje Femis). Na volta, assistiu à montagem do texto de Dias Gomes, levada aos palcos por Flávio Rangel e protagonizada por Leonardo Vilar e Natália Thimberg.
Vilar foi convidado para atuar no filme, mas Natália Thimberg foi substituída por Glória Menezes. Clássico do teatro e do cinema brasileiro, O pagador de promessas conta a história de Zé do Burro (Vilar), um agricultor que sai de uma pequena cidade baiana, acompanhado da mulher, Rosa (Gloria Menezes), para pagar uma promessa à Santa Bárbara (ou Iansã, conforme a religiosidade sincrética dele). Ele carrega uma cruz, como Jesus Cristo, para pagar uma professa que fez em intenção a um burro, salvo milagrosamente de um acidente. Acusado de sacrilégio por um padre (Dionísio Azevedo), que não aceita a mistura da religião católica com o candomblé, o agricultor é impedido de entrar numa igreja, em Salvador. Aos poucos, o caso ganha interesse e a imprensa arma um verdadeiro circo midiático, numa tentativa de manipular o agricultor, enquanto uma tragédia vai enredando o destino do agricultor.


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