Leilane Soares
Você
sabia que na Suécia 18% das mulheres foram ameaçadas por um homem pelo menos
uma vez na vida, 46% sofreram violência de um homem, 13% foram vítimas de
violências sexuais cometidas fora de uma relação sexual e 92% das mulheres que
sofreram violências sexuais após uma agressão não apresentaram queixa à
polícia?
Esses
são alguns fatos apresentados, antes de cada parte do livro, em “Os Homens
que Não Amavam as Mulheres”. Primeiro volume da trilogia Millennium, o
suspense, magistralmente arquitetado e escrito por Stieg Larsson, traz a tona
uma discussão sem fim: a violência contra as mulheres. O livro não aborda o
assunto de maneira direta, para isso usa como pano de fundo a história do
desaparecimento da sobrinha, Harriet, do empresário do ramo industrial Henrik
Vanger.
Para
isso o empresário contrata Mikael Blomkvist, jornalista investigativo conhecido
pela ousadia em suas reportagens publicadas na revista Millennium. Uma delas,
por sinal, lhe rendeu um processo de difamação por parte de um famoso
empresário. A desculpa inicial para o contato seria uma suposta biografia sobre
a conturbada família Vanger. Assim, Mikael deixa tudo para trás e se muda para
a ilha onde mora a família. Em troca das respostas que Henrik procura, o
empresário promete a Mikael documentos que comprovem o caso relatado na
Millennium e que causou a sua condenação no processo.
E
é, enquanto engana a todos da família com a suposta biografia, que Henrik o
coloca a par de sua real tarefa: desvendar o mistério que cerca o
desaparecimento de sua sobrinha. O caso, ocorrido há quase quarenta anos,
intriga o patriarca até hoje devido às suas circunstâncias: era um dia de festa
na ilha, um acidente havia acontecido na ponte que ligava a ilha à cidade e
qualquer pessoa que precisasse passar de carro ou a pé seria notada. Mas
Harriet não foi. Ninguém a viu e mesmo depois de dias, semanas e meses de
procura pela menina, a polícia desistiu do caso, pois nenhum corpo ou pista que
desvendasse o paradeiro dela foramencontrados.
Feitos
os arranjos é nesse ponto que somos apresentados a Lisbeth Salander. A
intrigante pesquisadora, contratada por Mikael, para ajudar nas buscas por
Harriet. Punk, hacker, com tatuagens e piercings por todo o corpo, a
mulher, que mais parece uma menina de 14 anos, possui uma inteligência e
memória fora do comum. O que à primeira vista pode assustar, depois de um tempo
encanta e surpreende.
Além
de uma personagem controversa, Lisbeth é outra das mulheres que Larsson se
utiliza para abordar o tema central do livro. Destratada pelas leis do estado,
por ser considerada incapaz de cuidar de si mesma, Lisbeth passa maus bocados
nas mãos de seus tutores. E, ao contrário da imagem frágil, provocada pelo
corpo raquítico e pouco desenvolvido, o leitor vai descobrindo à medida que
avança na leitura que mexer com Lisbeth pode ser letal, já que além de reunir informações
sobre seus inimigos, a pequena mulher se utiliza da violência, quando
necessário, para cumprir com sua vingança.
Com
um enredo de tirar o fôlego e personagens marcantes, “Os Homens que Não Amavam
as Mulheres” ganhou seu espaço no mercado editorial de suspense no mundo. Com
uma história envolvente e personagens enigmáticos e cativantes, a obra é capaz
de envolver o leitor e tirar o seu fôlego com um final surpreendente.
Considerado um dos melhores do seu gênero, a trilogia, que conta ainda com “A
Menina Que Brincava com Fogo” e “A Rainha do Castelo De Ar”, ambos com previsão
para chegar logo às telas do cinema mundial, ganhou seu lugar nas telas de
cinema sueco pouco tempo depois da publicação do último volume da trilogia.
Pouco
conhecido dentro do circuito comercial, os longas baseados nas histórias de
Stieg Larsson foram lançados em 2009 e trouxeram em seu elenco Michael Nyqvist
(“Missão Impossível 4: Protocolo Fantasma”), como Mikael Blomkvist, e
Noomi Rapace (“Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras”), como Lisbeth
Salander. Em 2010, a saga ganhou uma minissérie de seis episódios exibida pela
TV sueca e contou com os atores que participaram dos filmes.
Agora,
quase três anos depois, é a vez do público conhecer essa história fascinante
sob o ponto de vista do diretor David Fincher (“O Curioso Caso de Benjamin
Button”). O primeiro longa, baseado na trilogia de Stieg Larsson, chega às
salas de cinema trazendo em seu elenco astros como Daniel Craig (“Cowboys
& Aliens”), Rooney Mara (“A Hora do Pesadelo”), Christopher
Plummer (“O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus”) e Robin Wright (“A
Lenda de Beowulf”). Além disso, o longa foi indicado a cinco Oscar: Melhor
Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som e
Melhor Atriz pela performance de Rooney Mara no papel da intrépida
investigadora Lisbeth Salander.
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