Autor - Luis Nassif
Para se expor dessa maneira, só há uma
explicação para a atitude do Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal
Federal): tem culpa no cartório.
Gilmar participou de duas armações anteriores
com a revista Veja: o “grampo sem áudio” (junto com seu amigo Demóstenes
Torres) e o falso grampo no Supremo.
No primeiro caso, pode ter participado sem
saber. No segundo foi partícipe direto.
Como se recorda, a revista abriu capa com a
informação de que havia sido detectada escuta em uma das salas do Supremo.
Serviu para uma enorme matéria sobre a “república do grampo” e para a
prorrogação da CPI. Tudo com o objetivo de derrubar a Operação Satiagraha.
Era falso. O relatório da segurança do Supremo –
entregue à revista por pessoas ligadas à presidência do órgão – não indicava
nada.
Era um relatório banal, que havia captado alguns
sinais de fora para dentro. Entregue à CPI, o relatório foi publicado aqui e em
pouco tempo engenheiros eletrônicos desmontaram a farsa: como é possível um
grampo que capta sinais de fora para dentro? Era isso o que o relatório
indicava. O mais provável é que fosse um mero sinal de alguma externa de
emissora de televisão. E Gilmar-Veja conseguiram, com essa armação, prorrogar
uma CPI!
Nenhum especialista em grampo cairia nessa
confusão. Gilmar ou seus homens apenas seguiram o roteiro tradicional da
revista para criar escândalo: uma verdade irrelevante (a captação de sinais de
fora para dentro), a ocultação do fato relevante (sinais de fora para dentro
não têm nenhum significado) e, pronto!, mais um escândalo fabricado -
impossível de ser desmentido, já que o acordo com a velha mídia colocava uma
barreira de silêncio a todos os abusos da revista.
Àquela altura, Veja mostrava seu enorme
despreparo para entender as novas mídias. Não se deu conta de que a blogosfera
tinha se convertido em uma alternativa eficaz contra pactos de silêncio. E a
denúncia da armação foi difundida.
Agora, com as redes sociais em plena
efervescência, com os métodos da revista sendo progressivamente questionados,
tenta-se essa jogada, que lança Gilmar Mendes no centro do vulcão.
O que o levou a essa provável armação é óbvio:
medo da CPI. Pela matéria da revista, fica-se sabendo que o fato que o ameaça
teria sido uma suposta viagem à Alemanha bancada pelo bicheiro Carlinhos
Cachoeira.
Na matéria, Gilmar desmente, afirma que vai para
a Alemanha como Lula vai a São Bernardo. E diz ter condições de comprovar que
pagou as despesas. Que mostre, então (a revista não mostra os comprovantes).
Tem mais.
Até hoje não deu as explicações devidas pelo
factóide do tal grampo no Supremo. Quem armou a jogada? Foi o chefe de
segurança que contratou e que era especialista em grampos? Foi seu chefe de
gabinete? Foi o assessor de comunicação do Supremo?
Aliás, o próprio Supremo – não fosse o
corporativismo rançoso – há muito deveria ter cobrado explicações de seu então
presidente. Os mais altos magistrados do país comportam-se como qualquer juiz
que não quer julgar, “porque isso não é comigo”, ou procurador que testemunha
uma grave ofensa a interesses difusos, mas não se julga responsável por atuar,
por não ter sido provocado.
E é a imagem da Suprema Corte que está em jogo,
da qual cada Ministro deveria se sentir responsável.
Com seu açodamento, falta de limites e de
respeito pela casa, nunca houve Ministro do STF como Gilmar Mendes.
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