SÃO PAULO - A bancada de vereadores eleita com a
bandeira da segurança pública tem dois ex-comandantes da Rota que somam 77
mortes, um coronel que defende a PM na gestão da Prefeitura e duas vítimas da
violência urbana. Paulo Adriano Telhada (PSDB), Álvaro Camilo (PSD), Conte
Lopes (PTB), Ari Friedebach (PPS) e Masataka Ota (PSB) estreiam na Câmara
Municipal com a tarefa de tratar de um tema que, na teoria, só pode ser
decidido por Estado ou União.
Quinto vereador mais votado de São Paulo,
coronel Telhada foi eleito com o lema "bandido bom é bandido morto".
Ele afirma que vai tentar criar a operação-delegada (bico oficial da PM pago
pela Prefeitura) para a Guarda Civil Metropolitana (GCM). Ao longo de 30 anos
de corporação, matou 36 suspeitos em supostos confrontos com marginais. Ele
garante que todos os mortos "eram bandidos".
O ex-deputado Conte Lopes, tenente do jovem
Telhada em início de carreira na Rota, também vai para o Legislativo com a
missão de "fortalecer a GCM". Ele credita sua eleição à sensação de
insegurança da sociedade paulistana. E promete agir nessa área. "A
população clama por segurança. Vou colocar guardas nas portas das escolas para
combater o tráfico de drogas", diz.
Com 41 mortes nas costas entre as décadas de
1970 e 1980, quando esteve à frente da Rota, Lopes afirma ter agido
"legalmente" em todas as ações. "O problema é que você, na
função de comando, vai à frente (para ajudar os demais)", conta o ex-capitão,
que afirmou não ter sido oficial "do tipo que só fica passeando de viatura
o dia inteiro".
Ex-comandante da PM durante o governo de José
Serra entre 2006 e 2010, o coronel Álvaro Camilo tem o mesmo discurso em defesa
da GCM. Diz também que vai defender mais contratações de policiais militares
para a operação delegada da Prefeitura e a manutenção de coronéis da reserva no
comando das subprefeituras.
Auxílio.
Além dos três ex-PMs, outros dois debutantes na Câmara prometem ações de
combate à violência e de apoio às vítimas. Pai do garoto Ives Ota, assassinado
em agosto de 1997, o comerciante Masataka Ota é coordenador do Movimento Paz e
Justiça Ives Ota, que presta auxílio psicológico às vítimas de violência. Ota
quer ampliar a rede de auxílio para pessoas que ficaram abaladas após episódios
de violência na Secretaria Municipal de Saúde.
Presidente do projeto "Viva em
Segurança", Friedebach teve a filha Liana e seu namorado assassinados em
2003. Um dos acusados pelo crime era um menor de idade, conhecido como
Champinha. Desde então o hoje vereador tem se dedicado a defender o aumento de
pena para menores infratores envolvidos em crimes hediondos. No Legislativo,
pretende desenvolver "ações locais possam auxiliar no combate a
violência", mas ainda não tem nenhuma proposta específica na área.
O coordenador do Observatório de Segurança
Pública da Unesp, Luís Antonio Francisco de Souza, atribui a eleição de
policiais como uma "policialização da política" que se fortalece não
só na cidade de São Paulo. "As pessoas tendem a colocar a segurança
pública como um dos progblemas centrais das suas vidas. E associam a ideia da
segurança, não no sentido democrático, a determinadas personalidades que acabam
tendo bons desempenhos nos processos eleitorais", diz.
A eleição de personalidades como Telhada e Conte
Lopes, com grande número de mortes no currículo, também mostra para ele uma
tendência preocupante. "Você vê a população estimulando um tipo de postura
diante da segurança pública que não é a mais acertada para o estado de direito",
analisa.
Para ele, esse tipo de escolha também mostra uma
tendência de municipalização da Segurança Pública, hoje gerida principalmente
pelos governos estaduais. "No âmbito municipal, tem vereadores,
administradores, assessores de prefeitos policiais, o que revela uma maior
pressão para obter recursos e ações policiais municipais", afirma.
Fonte
– estadão.com.br
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