*Por Paulo Nogueira
Elogios desmesurados podem influenciar, e
consequentemente manipular, bem mais do que em nossa ingenuidade imaginamos
Zé Dirceu traz hoje ao debate, de novo, a
questão da reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Vale a pena parar para discutir isso, por mais
de um motivo.
Primeiro, quem acredita que não correu dinheiro
para comprar no Congresso os votos necessários para que FHC pudesse ter um
segundo mandato acredita em tudo, para usar as palavras de Wellington.´
É certo que não é porque não se fez justiça
antes que não se deve fazer agora. Mas é inaceitável tratar de um caso e
simplesmente esquecer o outro ao sabor de conveniências. Ao ignorar uma
história você acaba conferindo peso desmedido à outra.
Se o mensalão se deu em parcelas mensais, o
emendão se deu numa só parcela. A diferença maior é que o mensalão foi e é
tratado pela mídia estabelecida com um estardalhaço e um enviesamento
indecentes. Tamanha pressão se refletiu não sobre os eleitores, que já faz
tempo ligam muito pouco para o que a mídia diz – mas sobre o STF.
Os integrantes do STF parecem estar gostando dos
elogios interesseiros e calculistas que vão recebendo dos suspeitos de sempre.
Na lisonja cínica e desequilibrada se esconde uma manobra não tão sutil assim
de corrupção de valores. Muitas vezes é mais fácil, mais barato e menos
arriscado você influenciar alguém não com dinheiro, mas com a louvação. A alma
humana, como escreveu Confúcio, é mais suscetível à adulação do que às moedas.
O brasileiro médio, em sua sabedoria intuitiva,
não dá quase nenhuma importância ao que a mídia diz. Ele desconfia das reais
intenções por trás dos espasmos de moralismo que remetem ao clássico “mar de
lama” de Carlos Lacerda.
Mas os juízes do STF, eles sim, dão muita
importância à grande mídia. Louvaminhas podem embriagá-los.
De tanto serem colocados no céu, os juízes podem
achar que são capazes de voar – e isso não é bom para o país.
*Paulo Nogueira é
jornalista e está vivendo em Londres. Foi editor assistente da Veja, editor da
Veja São Paulo, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma
unidade de negócios da Editora Abril e diretor editorial da Editora Globo
Fonte – diariodocentrodomundo.com.br
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