9 de outubro de 2012

O que está por trás da adulação aos juízes no julgamento do Mensalão



*Por Paulo Nogueira

Elogios desmesurados podem influenciar, e consequentemente manipular, bem mais do que em nossa ingenuidade imaginamos

Zé Dirceu traz hoje ao debate, de novo, a questão da reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Vale a pena parar para discutir isso, por mais de um motivo.
Primeiro, quem acredita que não correu dinheiro para comprar no Congresso os votos necessários para que FHC pudesse ter um segundo mandato acredita em tudo, para usar as palavras de Wellington.´
É certo que não é porque não se fez justiça antes que não se deve fazer agora. Mas é inaceitável tratar de um caso e simplesmente esquecer o outro ao sabor de conveniências. Ao ignorar uma história você acaba conferindo peso desmedido à outra.
Se o mensalão se deu em parcelas mensais, o emendão se deu numa só parcela. A diferença maior é que o mensalão foi e é tratado pela mídia estabelecida com um estardalhaço e um enviesamento indecentes. Tamanha pressão se refletiu não sobre os eleitores, que já faz tempo ligam muito pouco para o que a mídia diz – mas sobre o STF.
Os integrantes do STF parecem estar gostando dos elogios interesseiros e calculistas que vão recebendo dos suspeitos de sempre. Na lisonja cínica e desequilibrada se esconde uma manobra não tão sutil assim de corrupção de valores. Muitas vezes é mais fácil, mais barato e menos arriscado você influenciar alguém não com dinheiro, mas com a louvação. A alma humana, como escreveu Confúcio, é mais suscetível à adulação do que às moedas.
O brasileiro médio, em sua sabedoria intuitiva, não dá quase nenhuma importância ao que a mídia diz. Ele desconfia das reais intenções por trás dos espasmos de moralismo que remetem ao clássico “mar de lama” de Carlos Lacerda.
Mas os juízes do STF, eles sim, dão muita importância à grande mídia. Louvaminhas podem embriagá-los.
De tanto serem colocados no céu, os juízes podem achar que são capazes de voar – e isso não é bom para o país.
*Paulo Nogueira é jornalista e está vivendo em Londres. Foi editor assistente da Veja, editor da Veja São Paulo, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora Abril e diretor editorial da Editora Globo

Fonte – diariodocentrodomundo.com.br

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