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Roberto Gurgel, assim como seu antecessor
Antonio
Fernando de Souza, foi tutelado por uma política
republicana do PT. Foto: Carlos
Humberto/SCO/STF
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Por
Leandro Fortes
Tenho acompanhado nas redes sociais, desde cedo,
e sem surpresa alguma, o êxtase subliterário de toda essa gente de direita que
comemora a condenação de José Dirceu como um grande passo civilizatório da
sociedade e do Judiciário brasileiro. Em muitos casos, essa exaltação beira a
histeria ideológica, em outros, nada mais é do que uma possibilidade pessoal,
física e moral, de se vingar desses tantos anos de ostracismo político imposto
pelas sucessivas administrações do PT em nível federal. Não ganharam nada, não
têm nada a comemorar, na verdade, mas se satisfazem com a desgraça do inimigo,
tanto e de tal forma que nem percebem que todas essas graças vieram – só podiam
vir – do mesmo sistema político que abominam, rejeitam e, por extensão,
pretendem extinguir.
José Dirceu, como os demais condenados, foi
tragado por uma circunstância criada exclusivamente pelo PT, a partir da posse
de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, data de reinauguração do Brasil como
nação e república, propriamente dita. Uma das primeiras decisões de Lula foi a
de dar caráter republicano à Polícia Federal, depois de anos nos quais a
corporação, sobretudo durante o governo Fernando Henrique Cardoso, esteve
reduzida ao papel de milícia de governo. Foi esta Polícia Federal, prestigiada
e profissionalizada, que investigou o dito mensalão do PT.
Responsável pela denúncia na Procuradoria Geral
da República, o ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza jamais teria
chegado ao cargo no governo FHC. Foi Lula, do PT, que decidiu respeitar a
vontade da maioria dos integrantes do Ministério Público Federal – cada vez
mais uma tropa da elite branca e conservadora do País – e nomear o primeiro da
lista montada pelos pares, em eleições internas. Na vez dos tucanos, por oito
anos, FHC manteve na PGR o procurador Geraldo Brindeiro, de triste memória,
eternizado pela alcunha de “engavetador-geral” por ter se submetido à missão
humilhante e subalterna de arquivar toda e qualquer investigação que tocasse
nas franjas do Executivo, a seu tempo. Aí incluída a compra de votos no
Congresso Nacional, em 1998, para a reeleição de Fernando Henrique. Se hoje o
procurador-geral Roberto Gurgel passeia em pesada desenvoltura pela mídia, a
esbanjar trejeitos e opiniões temerárias, o faz por causa da mesma
circunstância de Antonio Fernando. Gurgel, assim como seu antecessor, foi
tutelado por uma política republicana do PT.
Dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal,
seis foram indicados por Lula, dois por Dilma Rousseff. A condenação de José
Dirceu e demais acusados emanou da maioria destes ministros. Lula poderia, mas
não quis, ter feito do STF um aparelho petista de alto nível, imensamente
manipulável e pronto para absolver qualquer um ligado à máquina do partido.
Podia, como FHC, ter deixado ao País uma triste herança como a da nomeação de
Gilmar Mendes. Mas não fez. Indicou, por um misto de retidão e ingenuidade, os
algozes de seus companheiros. Joaquim Barbosa, o irascível relator do mensalão,
o “menino pobre que mudou o Brasil”, não teria chegado a lugar nenhum, muito
menos, alegremente, à capa de um panfleto de subjornalismo de extrema-direita,
se não fosse Lula, o único e verdadeiro menino pobre que mudou a realidade
brasileira.
O fato é que José Dirceu foi condenado sem
provas. Por isso, ao invés de ficar cacarejando ódio e ressentimento nas redes
sociais, a direita nacional deveria projetar minimamente para o futuro as
consequências dessas jurisprudências de ocasião. Jurisprudências nascidas neste
Supremo visivelmente refém da opinião publicada por uma mídia tão velha quanto
ultrapassada. Toda essa ladainha sobre a teoria do domínio do fato e de
sentenças baseadas em impressões pessoais tende a se voltar, inexoravelmente,
contra o Estado de Direito e as garantias individuais de todos os brasileiros.
É esperar para ver.
As comemorações pela desgraça de Dirceu podem
elevar umas tantas alminhas caricatas ao paraíso provisório da mesquinharia
política. Mas vem aí o mensalão mineiro, do PSDB, origem de todo o mal, embora,
assim como o mensalão do PT, não tenha sido mensalão algum, mas um esquema
bandido de financiamento de campanha e distribuição de sobras.
Eu quero só ver se esse clima de festim
diabólico vai ser mantido quando for a vez do inefável Eduardo Azeredo,
ex-governador de Minas Gerais e ex-presidente do PSDB, subir a esse patíbulo de
novas jurisprudências montado apenas para agradar a audiência.
Fonte
– Carta Capital
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