Comentário: de um sujeito que cita filme de ação para
embasar seu voto é de se esperar que nem sequer ler e interpretar um livro
saiba, mesmo.
Por Ricardo Carvalho
Olá Nassif,
Essa viagem foi realmente muito valorizada hoje no
STF. Mas teve uma passagem que gostaria de comentar.
Não sei se mais alguém percebeu. Eu quase morri de
rir; pra não chorar!!
No seu voto, Fux demonstrou proximidade de Gilmar ao
dizer que tinha dele recebido um presente: o livro "O andar do bêbado:
como o acaso determina nossas vidas" de Leonard Mlodinow (Zahar,
2009). Foi patética a fala que se seguiu.
Citando um livro que trata de probabilidade e
aleatoriedade, tentou dar base científica ao torto raciocínio estatístico da
denúncia. O revisor tinha apresentado um estudo anteriormente que mostrava a
não correlação entre os repasses dos recursos e o apoio em votações. Talvez por
isso o ministro Fux tenha citado o livro para dizer que o mesmo lhe ensinara
que "nada é por acaso".
Deveria ter ficado calado, pois o livro diz exatamente
o contrário: quase tudo é por acaso!! Para dizer o que disse, não leu sequer a
orelha.
Trechos do livro que o ministro não leu ou, se leu, não
entendeu bulhufas:
"O fato de que a intuição humana é mal adaptada a
situações que envolvem incerteza já era conhecido nos anos 1930 ..."
"Nadar contra a corrente da intuição é uma tarefa
difícil."
" ... pesquisas mostraram que, em situações que
envolvem o acaso, nossos processos cerebrais costumam ser gravemente
deficientes."
"Também trata do modo como tomamos decisões e dos
processos que nos levam a julgamentos equivocados e decisões ruins quando
confrontados com aleatoriedade e incerteza".
"Como veremos, a mente humana foi construída para
identificar uma causa definida para cada acontecimento, podendo assim ter
bastante dificuldade em aceitar a influência de fatores aleatórios ou não
relacionados".
"Os processos aleatórios são fundamentais na
natureza e onipresentes em nossa vida cotidiana; ainda assim, a maioria das
pessoas não os compreende nem pensa muito a seu respeito."
Dá uma olhada nos capítulos:
"1. Olhando pela lente da aleatoriedade – O papel
oculto do acaso ... quando um rato consegue ter um desempenho melhor que seres
humanos.
2. As leis das verdades e das meias verdades – ... por
que uma boa história tem menos chance de ser verdadeira que uma explicação
pouco convincente.
...
6. Falsos positivos e verdadeiras falácias – ... erros
na probabilidade condicional, de exames médicos ao julgamento de O.J. Simpson e
a falácia da acusação."
Não me lembro em que parte do livro, já li há alguns
meses, mas a certa altura o autor relata alguns dos erros mais comuns durante
uma investigação, científica ou não. Diz ele que um dos maiores desses erros é
buscar apenas os elementos que sustentam as hipóteses. O caminho, segundo ele,
e eu concordo, deve ser o contrário: aquele que busca incansavelmente
derrubar a hipótese; pois, se ao final, ela permanecer de pé é porque ela
realmente tem mais probabilidade de ser verdadeira.
Acho que ficou demonstrado que sequer a orelha e o
índice o ministro Fux leu. E se leu ... ou tá de má fé, o que não quero acreditar,
ou não conseguiu entender o que leu, o que não posso acreditar, pois é o livro
que trata de estatística mais simples de se entender que já li.
Um abraço de um leitor diário.
Fonte – Blog do Saraiva
Nenhum comentário:
Postar um comentário