Sebastião Nery
“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos
escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com
Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se
entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o
Cebrap”.
Esta história, assim aparentemente inocente, era
a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro “Fernando Henrique
Cardoso, o Brasil do possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni
(Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano
de 1969″ era fevereiro de 69.
FUNDAÇÃO FORD
Há menos de 60 dias daquele fevereiro de 69, em 13 de dezembro de 68 a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.
Há menos de 60 dias daquele fevereiro de 69, em 13 de dezembro de 68 a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.
E Fernando Henrique recebia da poderosa e
notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o
Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento
nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o
compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares. Era
muito dinheiro, naquela época, com o dólar supervalorizado.
AGENTE DA CIA
Os americanos não estavam jogando dinheiro pela
janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem
estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando
Henrique havia acabado de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na
América Latina”, em que os dois defendiam a tese de que países em
desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se
dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.
Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos,
Fernando Henrique logo se tornou uma “personalidade internacional” e passou a
dar “aulas” e fazer “conferências” em universidades norte-americanas e
européias.
Era “um homem da Fundação Ford”. E o que era a
Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos
EUA.
QUEM PAGOU
Em 2008, chegou às livrarias brasileiras um
livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e,
com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: “Quem pagou a conta? A CIA
na guerra fria da cultura”, da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders
(editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).
Quem “pagava a conta” era a CIA, quem pagou os
145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique
foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um
terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:
“Consistente e fascinante” (“The Washington
Post”). “Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade
sobre as atividades da CIA” (“Spectator”). “Uma história crucial sobre as
energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente”
(“The Times”).
MILHÕES DE DÓLARES
1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockefeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).
1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockefeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).
2 – “O uso de fundações filantrópicas era a
maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem
alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das
fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford, entre outras
agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos
por sua postura correta na guerra fria” (pág. 443).
3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA
bombeou dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o
ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática de uma
rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para
proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág. 147).
FHC FACINHO
4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).
4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).
5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não
apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na
Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na
Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no
Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil” (pág. 119).
6 – “A ajuda financeira teria de ser
complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais
ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade
ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45). Fernando Henrique foi
facinho.
Fonte
– Tribuna da Internet
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