24 de julho de 2012

Por trás de um Clássico – Parte I


Um diretor endividado e pressionado por um estúdio. Um roteiro engavetado e recusado por muitos cineastas. Dois atores desacreditados, sendo um deles um veterano que todos acreditavam já ter passado seu auge. Um projeto destinado ao fracasso. Este era o panorama da produção de O Poderoso Chefão.

No fim dos anos 60, o escritor Mario Puzo foi aos estúdios da Paramount e da Universal mostrar um tratamento da estória que vinha escrevendo chamada “A Máfia”. Puzo tinha dívidas e precisava de 11 mil dólares. Conseguiu 12 da Paramount para terminar sua estória. Daí nasceu o livro “O Poderoso Chefão”, que se tornaria um best-seller. Com seu tremendo sucesso, a Universal chegou a oferecer um milhão por um roteiro adaptado de Puzo. Os diretores da Paramount se viram obrigados a oferecer mais e fecharam com o escritor, atravessando o negócio com a Universal. Segundo alguns executivos da época “a Paramount torcia para que o livro vendesse menos e assim não tivesse que comprar os direitos de sua adaptação, mas isso era impossível”.
Depois de oferecer o roteiro para diversos diretores bem sucedidos da época, como Arthur Penn (Bonny e Clyde) e Peter Bogdanovich (A Última Sessão de Cinema) e serem recusados, um dos produtores decidiu que, uma vez que o livro tratava de uma família da Máfia Italiana, deveria escolher um diretor ítalo-americano. Seguindo sugestões, foi atrás de Francis Ford Coppola.

Coppola era um ex-aluno da UCLA, considerado um dos melhores formandos da universidade até então. Gabava-se de ser um diretor jovem, que fez seu primeiro filme aos 27 anos.  Como todos os jovens diretores daquela geração, sonhava em fazer filmes autorais, baseados em seus próprios roteiros. Tinha criado uma produtora chamada Zoetrope, que buscava fazer filmes mais artísticos e arrumava financiamento para a produção de seus amigos. Para ele, fazer O Poderoso Chefão seria se vender ao sistema, adaptando um best-seller e trabalhando para produtores executivos retrógrados e um estúdio famoso. Também não queria fazer um filme que retratasse os italianos daquela forma. Mas Coppola devia cerca de 400 mil dólares para a Warner, por ter produzido (e se f**ido com) THX, uma ficção científica dirigida por seu amigo – e também ex-aluno da UCLA -, George Lucas, e bebia muito de 2001, de Kubrick. Mas sua experiência ainda não era o suficiente. Tinha dirigido apenas três filmes, nenhum deles um grande sucesso de bilheteria, e sofria com um certo preconceito dos executivos da Paramount. Depois de ter uma conversa com Charles Bludhorn, executivo da co-produtora e investidora do filme, Gulf+Western, conseguiu convencê-lo de que poderia dirigi-lo, apesar de ainda ter dúvidas se este era o projeto certo. Aconselhado pelo próprio Lucas, com muita relutância, decidiu aceitar-lo, pela sobrevivência da Zoetrope.

O Poderoso Chefão foi um marco por ser, pela primeira vez, um projeto que tinha muitas expectativas de um grande estúdio, dirigido por um diretor da chamada Nova Hollywood – que acreditava que os diretores deveriam ter total controle das produções, como verdadeiros autores, diferente dos filmes produzidos nos tempos da Hollywood dos Anos Dourados, que dava este poder aos produtores-executivos. Sendo assim, foi um eterno embate entre Coppola e o tradicional produtor Robert “Bob” Evans.

Os problemas já começaram na escalação do elenco. Coppola, influenciado pelo cinema europeu, queria fazer um filme sem grandes nomes, buscando atores desconhecidos do teatro, para que o público não tivesse ideias pré concebidas e realmente acreditasse nos personagens. Evans achava que um filme não faria sucesso sem estrelas. Para interpretar Michael Corleone, Francis queria um jovem Al Pacino, até então desconhecido, tendo participado de apenas dois filmes. O estúdio ficou louco. Queria alguém com um ar mais heróico, como Robert Redford ou Warren Beatty. Coppola dizia que nenhum deles se passava por um ítalo-americano. Até aí, o estúdio não acreditava em Al Pacino em um aluno universitário, com seu jeito desleixado. A aparente falta de confiança de Pacino também trazia inseguranças para o estúdio quanto às cenas mais tensas e violentas que Michael protagonizava.

O único grande nome que Coppola queria era Marlon Brando, que o estúdio não queria de forma alguma. Para muitos naquela época, Brando era um beberrão obeso, que já tinha passado seu auge e só trazia problemas para a produção, causando grandes atrasos. Seus últimos filmes tinham sido fracassos e suas confusões em O Grande Motim eram lendárias – consta até que Brando passou gonorréia para metade do Taiti, onde o filme foi rodado. Às escuras, Coppola fez um teste com Brando (disse ao ator que era apenas um teste de maquiagem e gravou na sua própria casa, deixando uma câmera levemente escondida, enquanto os produtores não faziam idéia do que estava acontecendo). Sabendo que uma conversa com eles não resolveria nada, Francis foi para NY, mostrando o teste para Bludhorn, da Gulf+Western. Bludhorn ficou surpreso com a atuação de Brando, dizendo que estava incrível.

Coppola tinha então ganhado duas batalhas contra os produtores do filme. Mas elas não eram as últimas.

(continua…)

Fonte moviethemovie.com.br

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