24 de julho de 2012

Por trás de um Clássico – Parte II


A produção de O Poderoso Chefão foi muito conturbada. Coppola sofria pressão de ser demitido (junto com Al Pacino, que diz que todo dia chegava ao set pensando que seria seu último), com boatos de que um substituto já estava na espera - o Oscar que ganhou pelo roteiro de Patton ajudou a se manter na direção.  Durante a pré-produção, falou com o célebre Diretor de Fotografia Gordon Willis em filmar O Poderoso Chefão como se pinta um quadro, com os atores entrando e saindo de cena  e discutiu a idéia de usar claro e escuro, luz e sombra para denotar os personagens. Willis decidiu usar a luz acima de Brando, para que não pudessemos ver seus olhos, como uma espécie de personificação do mal, numa tomada que se tornou clássica.


O problema era que Willis era um cinematógrafo metódico, que gostava de marcar a cena com calma e pontuar bem a luz (ainda mais depois que decidiram que as cenas seriam divididas entre pontos escuros e claros, pedindo ainda mais uma marcação), enquanto Coppola, vindo do teatro, buscava o improviso. Willis achava que Francis endeusava os atores, e Coppola achava que Willis os tratava como robôs. Certa vez, durante uma cena, Al Pacino entrou num corredor do set que não tinha sido combinado, direto no breu. Coppola ficou enraivecido: “Por que meus atores não podem entrar onde quiserem no set?!”. Willis respondeu, “Tudo bem, se você quer que ele entre ali, ilumino aquele corredor. Mas vai levar tempo” (as mudanças de plano no cinema, que muitas vezes é gravado com uma câmera só, é o que leva mais tempo durante as filmagens, fazendo com que os diretores e atores esperem a equipe de fotografia reajustar toda a luz). Coppola berrou “Mas eu quero gravar agora!!” ao que Willis respondeu entrando no seu trailer e batendo na porta. Coppola olhou para o assistente de câmera, que também entrou numa sala, se escondendo, e bateu a porta. Percebendo que ninguém da equipe de fotografia iria agir contra a vontade de Willis, Coppola gritou “Por que ninguém me deixa gravar meu filme?!”, entrando em seguida no seu trailer, batendo a porta e, depois, dando socos tão fortes na parede que soavam como tiros. Seu assistente de direção pensou: “Pronto. Ele se matou”.

Como perdeu muito tempo fazendo testes com atores, não conseguiu ensaiar antes das gravações e, por isso, passava todas as manhãs dirigindo ensaios, deixando toda a equipe técnica às moscas, para gravar só depois do almoço, atrasando as filmagens. Coppola reescrevia o roteiro durante a noite (e as vezes até durante o dia) tornando impossível o planejamento das gravações. Os produtores não acreditavam nos atrasos e, vendo os dailies (material bruto das gravações), não conseguiam enxergar nada por conta da luz escura. Um dos produtores chegou a ironizar: “O que é isso? Ainda estou de óculos escuros?”. Martin Scorsese chegou a visitar o set um dia e encontrou Francis chorando, tamanha pressão que sofria.

Até o último momento Coppola acreditou que O Poderoso Chefão estava fadado ao fracasso. Durante a edição, assistiu à Operação França, e chegou a dizer para o seu editor: “Acho que fiz uma cagada. Quis fazer um filme de arte, à moda antiga, e acabei com um monte de velhos sentados numa mesa conversando”, ao que o editor respondeu “É. Acho que foi isso mesmo”.
Evans, que era tido por Coppola como Satanás a esse ponto, tinha prometido que deixaria o diretor terminar seu corte em San Francisco (onde os estúdios da Zoetrope ficavam), contanto que o corte final tivesse no máximo 2 horas e 15. Depois de terminá-lo com mais de 3 horas, Coppola decidiu cortar muitas cenas para agradar Evans e fechou com 2 e 20. Ao exibi-lo pela primeira vez para os executivos, Evans questionou “Onde estão todas aquelas coisas legais que gravamos?”. Francis percebeu que, independentemente da desculpa, Evans (segundo muitos da indústria “um babaca que se via como cineasta”) levaria o projeto para Los Angeles e terminá-lo. De qualquer jeito, Coppola botou as cenas de volta, mostrou a Evans e os dois concluiram que o filme tinha ficado melhor.
Depois da exibição do corte final, os executivos ficaram empolgados. Inovaram na distribuição do filme: na época, as produções recebiam muita divulgação e eram distribuidas por poucos cinemas (tipo uma sala num raio de 80 km) para, depois de meses, lançarem nos cinemas de escalões mais baixos. Por conta da imensa expectativa dos fãs do best seller por sua adaptação, os executivos decidiram distribuir O Poderoso Chefão em muitas salas de uma vez só, pedindo no mínimo 80 mil dólares adiantados e deixando a divisão de cota nas primeiras semanas de 90/10% para o estúdio.
O Poderoso Chefão alcançou 100 milhões de dólares, ultrapassando a maior bilheteria até então de …E o Vento Levou, que precisou de 33 anos e diversos relançamentos para alcançar a bilheteria que teve. Foi o começo dos blockbusters.

O filme agradou todos os gostos: os amantes do livro achavam a adaptação fiel; os jovens consideravam genial, reforçando a idéia da contracultura, junto com os movimentos hippie  e da Nova Hollywood; já os conservadores acreditavam que o filme reforçava os valores de família, perdidos na nova geração.
O Poderoso Chefão foi um marco na cultura da época, enfatizando conceitos que a Nova Hollywood trouxe com filmes como Easy Riders, como o fim do sonho americano e a sua sociedade igualitária, com uma divisão étnica e o Estado não podendo ajudar seus cidadãos, que buscavam ajuda por outros meios – no caso, a Máfia, que trazia justiça. Muitos viram Michael Corleone  como o presidente Nixon: uma pessoa que, a princípio, tinha metas boas, mas acaba se voltando para o mal. Coppola mesmo, dentro de sua visão Marxista, via o filme como uma representação do capitalismo e conseguiu fazer de O Poderoso Chefão algo pessoal, com a briga entre os irmãos e busca pelo respeito do pai, problemas que viveu em sua família.

Coppola tinha brincado com os executivos da Paramount que, se o filme fizesse 30 milhões de Dólares pediria uma Mercedes 600, carro feito sob encomenda e caríssimo. Os executivos, prometeram que dariam caso o filme fizesse 50. Com os 100 arrecadados, Coppola foi junto com Lucas, em seu Honda, para uma concessionária Mercedes-Benz e encomendou um. Pediu para colocar na conta da Paramount.

Fonte – moviethemovie.com.br

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