Integra
da entrevista de Andressa Mendonça ao Fantástico foi gravada por um celular;
nas perguntas, repórter da Globo insistiu para que a esposa de Carlos Cachoeira
conectasse o ex-presidente e o governador do Distrito Federal ao escândalo; ela
negou e os trechos não foram ao ar;
No encontro com Andressa Mendonça,
mulher de Carlinhos Cachoeira, o Programa Fantástico, da Rede Globo, insistiu
na tentativa de associar petistas com o esquema do contraventor. Uma pequena
parte da conversa com a jornalista Sônia Bridi foi ao ar na revista dominical
da Globo, dia 1º de julho. O Brasil247 teve acesso com exclusividade à
íntegra da entrevista, gravada de um iPhone.
Num dos
trechos, a mulher de Cachoeira é questionada sobre o suposto pagamento de uma
aeronave para o que médium João de Deus, que realiza cirurgias espirituais em
Abadiânia (município goiano bem no meio do caminho entre Goiânia e Brasília),
visitasse Lula em São Paulo. À época o ex-presidente realizava seu tratamento
contra o câncer na Laringe no hospital Sírio Libanês.
Veja o
trecho:
Fantástico
– Quando o médium João de Deus... Você conhece João de Deus?
Andressa
– Já o vi aqui, na casa do meu sogro. Ele vinha orar para a minha sogra, que
faleceu.
Fantástico
– Quando ele foi visitar o presidente Lula, em São Paulo, foi o Carlos quem
arranjou a visita, cedeu o avião?
Andressa
– Não sei te responder.
Fantástico
– Mas vocês têm contato com o João de Deus? A família é espírita?
Andressa
– Acho que não. Não sei. Acredito que não. Mas ele é uma pessoa que mora em
Anápolis, é uma figura fácil aqui. Ele ora pelas pessoas que estão doentes. Ele
veio orar pela minha sogra algumas vezes.
Em outro
trecho, Andressa é questionada sobre uma suposta viagem dela, de Cachoeira e do
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiróz, aos Estados Unidos. Ela nega,
mas a repórter insiste:
Fantástico
– E este encontro que vocês tiveram com o governador Agnelo Queiroz nos Estados
Unidos? Vocês discutiram política ou foi um encontro social?
Andressa
– Desculpa, com quem?
Fantástico
– Com o governador Agnelo Queiroz.
Andressa
– Nos Estados Unidos?
Fantástico
– É.
Andressa
– Eu não conheço o governador do Distrito Federal.
Fantástico
– Vocês não se encontraram nos Estados Unidos?
Andressa
– Não, não nos encontramos.
Fantástico
– Vocês nunca se encontraram? Você, junto com o Carlos, nunca se encontraram
com ele?
Andressa
– Não, nunca vi.
Fantástico
– Nunca teve um contato...
Andressa
– Nunca.
Acompanhe
abaixo a entrevista (sem cortes):
Fantástico
– Andressa, como você se preparou para essa entrevista?
Andressa
Mendonça – Eu me preparei com muita oração, com muita fé em Deus, como eu faço
todos os dias, e com a cabeça tranquila.
Fantástico
– Você conversou com os seus advogados?
Andressa
– Conversei com os meus advogados.
Fantástico
– Eles te orientaram sobre o que me dizer e o que não me dizer?
Andressa
– Não muito sobre o que dizer e o que não dizer. Acho que a gente tem que falar
com o coração, né? O que é para passar um pouco do que está acontecendo na
minha vida neste momento.
Fantástico
– A gente está conversando com você já tem oito semanas para fazer essa
entrevista. Por que agora você aceitou?
Andressa
– Eu aceitei porque tivemos uma derrota difícil no Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e me senti, assim, injustiçada. Acho que o caso do Carlos já está se
tornando um absurdo mesmo e ele não tem direito a nada, tudo para ele é negado,
é muito difícil. Sinto muito que ele tá sendo perseguido, acho discriminatório.
Sabe, acho que ele é um bode expiatório. Então...
Fantástico
– Bode expiatório de quem?
Andressa
– Não sei. Eu considero o meu marido um preso político, né? Eu, Andressa,
considero o Carlos um preso político depois da ditadura e...
Fantástico
– Mas as acusações contra ele são contravenção, lavagem de dinheiro. São várias
acusações relacionadas a crime, a formação de quadrilha. Ele está sendo
investigado por contrabando, relacionado às máquinas caça-níqueis...
Andressa
– São acusações...
Fantástico
– Mas como é que isso o transforma em preso político?
Andressa
– Acusações. Meu marido é inocente, ele pode responder em liberdade, não
cometeu crime hediondo, ele não matou ninguém, não fez tráfico de armas, de
drogas, não existe prostituição no processo. Considero ele um preso político
porque na CPI do Cachoeira, onde leva o nome dele, ficou muito clara a briga do
PT com o PSDB, um parlamentar querendo aparecer mais que o outro e,
infelizmente, a gente tem que passar por isso, né?
Fantástico
– Ele se considera inocente das acusações que são feitas contra ele?
Andressa
– Ele se considera inocente e com o direito de responder em liberdade, das
acusações. Ele tem o direito de provar que é inocente e responder em liberdade.
Fantástico
– Com que frequência você visita ele na prisão?
Andressa
– Eu visito uma vez por semana e agora de 15 em 15 dias, agora que ele tá no
presídio estadual.
Fantástico
– Por que ele foi para um presídio estadual?
Andressa
– Porque ele tem um segundo decreto de prisão contra ele, um decreto estadual.
Uma vez que ele ganhou liberdade na Operação Monte Carlo pelo desembargador
Tourino Neto e o ministro rapidamente se apressou em cassar, várias pessoas da
Operação Monte Carlo ganharam liberdade. Mas só a do Carlos foi cassada. Então
por que me pergunto e pergunto para o País, por que só a dele? É, no
mínimo, discriminatório para mim.
Fantástico
– Como é que você encontra com ele na prisão? Como é que são os encontros de
vocês?
Andressa
– É tenso, né? Ter um marido preso é uma coisa muito complicada. É a pior
experiência da minha vida. Você ver a pessoa que você ama sendo privada de
liberdade. Eu, como assistente social, procurei até a Secretaria de Direitos
Humanos porque a porção de comida não tava dando pra ele, ele sentia fome
durante o dia. Então a gente nunca imagina que vai passar por uma experiência
dessa.
Fantástico
– Você tem permissão para levar comida na cadeira para ele?
Andressa
– Um quilo de cream cracker por semana e 10 frutas. Então, a porção de comida é
muito pequena, ele passa também muita necessidade de comida. Sem falar das
outras coisas, né? Então..
Fantástico
– Ele desabafa com você?
Andressa
– Desabafa...
Fantástico
– Como é o ânimo dele?
Andressa
– Ele anda deprimido, tá tomando vários medicamentos agora, tá sendo consultado
uma vez por semana por um psiquiatra. Não tá bem psicologicamente...
Fantástico
– Ele está revoltado com as pessoas que ele considera, se sentiu abandonado
pelas amizades dele, pelas pessoas do relacionamento dele?
Andressa
– Não nesse sentido. Ele tá revoltado no sentido de se considerar um preso
político após a ditadura. A gente vê a presidente, brilhantemente, criando lá a
Comissão da Verdade pra combater, vem combatendo com tanta veemência,
enfrentando os crimes cometidos na ditadura, e queria mesmo fazer esse clamor
pra ela, pra ela olhar para o nosso caso.
Fantástico
– Eu queria que você me explicasse de novo como é que você chega a essa
conclusão de um preso político. Ele é acusado de corrupção ativa e passiva, de
corromper políticos e funcionários do governo, falsidade ideológica,
contrabando, lavagem de dinheiro e exploração de jogos de azar. Como é que uma
pessoa acusada desses crimes se torna um preso político?
Andressa
– Bom, se ele não fosse um preso político, não teria se criado uma CPMI com o
nome dele. Então, aí a gente já pode notar que o caso dele é puramente
político.
Fantástico
– Mas a CPI é para investigar a relação dele com os políticos ou políticos que
ele influenciasse.
Andressa
– Eu acredito que a mídia criou um monstro. O monstro Carlinhos Cachoeira. Meu
marido não é um monstro. Meu marido é um homem de bem. Ele precisa ter
liberdade para ter os direitos garantidos para poder provar isso, junto à sua
defesa, que ele é um homem de bem. Ele tem o direito de provar isso. Ele tem
acusações sobre ele, mas ele é um homem de bem. Isso eu posso garantir.
Fantástico
– Durante o tempo que você se relaciona com ele, você teve conhecimento das
atividades dele? Jogos, caça-níqueis, e tudo o mais?
Andressa
– Não tive conhecimento. A imprensa chama o Carlos de bicheiro, meu marido não
é bicheiro. Bicheiro em Goiás tem outros nomes. Tem mais de 20 mil máquinas de
apostas eletrônicas no jogo do bicho. E eles têm outros nomes. A polícia não
está nem um pouco preocupada em investigar. E o Carlos que eu conheço é
empresário, faz consultorias para empresas, trabalhou durante anos,
aproximadamente 10 anos com a Loteria do Estado de Goiás. Trabalhou no ramo de
medicamentos.
Fantástico
– No ano passado, o Fantástico fez uma reportagem que mostrava o envolvimento
dele com a importação de máquinas caça-níqueis. Você tem conhecimento disso?
Andressa
– Não tive conhecimento.
Fantástico
– Porque ele foi até a CPI e escolheu ficar calado? Ele vai depor,
provavelmente, na semana que vem. Ele disse como vai ser o comportamento dele
no depoimento?
Andressa
– Não. Ele disse pra mim que tem muito o que falar, que ele quer contribuir e
pediu para eu falar para o Brasil que ele tem o que dizer, inclusive para a sua
própria defesa.
Fantástico
– Esse 'tem o que dizer' envolve os políticos que são acusados de terem um
relacionamento com ele, de terem recebido dinheiro dele ou de terem recebido
dinheiro em troca de favores?
Andressa
– Talvez, talvez sim.
Fantástico
– Você acha que não há que falar?
Andressa
– Não sei se existe alguma coisa para ser falada ou se não existe. Isso é uma
coisa que eu realmente não sei. Mas ele acredita que ele pode contribuir, quer
falar. Enfim, ele quer dar uma entrevista, quer falar com a imprensa.
Fantástico
– Você recebeu um convite para posar numa revista masculina. Você aceitou?
Andressa
– Não. Eu recebi o convite.
Fantástico
– Como é que você vê essa notoriedade toda em torno de você numa situação, para
a maioria das mulheres, é muito constrangedora ter o marido preso?
Andressa
– Para mim também é muito constrangedor. Mas eu sou uma mulher de muita fé, uma
mulher segura daquilo que eu quero e daquilo que eu acredito. Então, pra mim
não tem limites. A minha luta com o Carlos não tem limites. Eu não consigo mensurar
para você o tamanho da minha luta. Ele, junto com os meus filhos, é a
prioridade na minha vida, e vai ser sempre.
Fantástico
– Como é o seu padrão de consumo? Como é que você, o que você gosta de comprar,
o que você gosta de gastar o seu dinheiro?
Andressa
– Eu gosto de comprar coisas que mulherzinha gosta, nada de especial. Sou uma
pessoa simples, tenho o dia a dia agitado com os meus filhos, levo no colégio,
natação. Então, uma vida normal.
Fantástico
– Você é muito gastadeira?
Andressa
– Não muito.
Fantástico
– A polícia diz que tem uma gravação do Carlinhos discutindo com um
administrador dele, uma conta de cartão de crédito sua de mais de R$ 60 mil. Ou
US$ 60 mil. Eles não dizem que moeda é, sobre os gastos feitos em Miami. Isso
ocorreu?
Andressa
– Pode ter acontecido sim. Eu estava comprando roupas de cama, algumas coisas
para casa. Pode ter acontecido sim.
Fantástico
– Você, neste mesmo mês, ele teria tido um gasto no cartão de crédito de R$ 500
mil. Os negócios dele produzem esse dinheiro suficiente para esse nível de
gasto?
Andressa
– Eu não sei tanto sobre os negócios dele nem... Eu tava morando com ele há
pouquíssimo tempo. Então, é uma coisa que eu não sei te responder.
Fantástico
– Essa casa na qual ele foi preso. É uma casa que está envolvida em muita
polêmica. Como é que vocês foram morar nesta casa?
Andressa
– Na verdade, um amigo emprestou para mim. Eu estava me separando e precisava
de uma casa meio a toque de caixa, com urgência, assim. E eu fiquei nessa
casa..
Fantástico
– E esse amigo disse de quem era a casa?
Andressa
– E eu fui ficando, fui ficando... Disse que era de um empresário. De um
empresário amigo dele. Fiquei...
Fantástico
– E você pode dizer o nome desses amigos?
Andressa
– Eu prefiro não. Já foi dito. Eles já foram depor na CPI. Então acho que já
está bem esclarecido esse assunto.
Fantástico
– Havia um projeto do Carlos de vocês morarem em Goiânia no Edifício Excalibur?
Andressa
– Ele comentou, uma vez, de relance comigo, mas eu até morava em um bairro
próximo, gosto do setor. Mas não concordei com a ideia.
Fantástico
– Por que?
Andressa
– Acho que não ficaria à vontade. Gosto de ficar onde me sinto à vontade.
Fantástico
– Foi aí que surgiu essa casa?
Andressa
– Não. Essa casa surgiu exatamente como eu estou te falando. De uma necessidade
minha, mesmo.
Fantástico
– Era uma casa para vocês ficarem morando durante quanto tempo?
Andressa
– Uma casa provisória, para a gente ficar três meses, no máximo, para eu ficar
dois meses, no máximo. E ele foi ficar lá comigo, depois.
Fantástico
– Foi pra essa casa que você fez as compras nos Estados Unidos?
Andressa
– Foi.
Fantástico
– O decorador que falou à CPI também disse que vocês gastaram R$ 550 mil em
móveis para esta casa. São R$ 550 mil para morar em uma casa provisoriamente?
Andressa
– Eu não sei o valor exato que nós gastamos. Mas gastamos um dinheiro. Mobiliei
a casa e obviamente levei a mobília comigo na mudança.
Fantástico
– Você já saiu da casa?
Andressa
– Já saí da casa.
Fantástico
– Por que você escolheu dar a entrevista aqui na casa do pai do Carlos em vez
de dar entrevista na sua própria casa?
Andressa
– Porque eu fico muito aqui. Aqui é como se fosse a minha casa. A minha segunda
casa é aqui. Então, como a família dele é também a minha família, eu passo a
maior parte do tempo aqui. Então aqui é o lugar que eu me sinto a vontade.
Fantástico
– Durante este tempo em que vocês ficaram juntos, vocês tinham um vida social
bastante movimentada. Vocês viajavam. Nestas viagens você se encontravam, saíam
para jantar, faziam programas com o governador Marconi Perillo?
Andressa
– Não, com o Marconi não.
Fantástico
– Você nunca encontrou com ele?
Andressa
– Nunca. Encontrei o Marconi várias vezes, fez campanha para governador com o
meu ex-marido, que é primeiro suplente do Demóstenes, e encontrei com o Marconi
'n' vezes durante a campanha eleitoral dele. Mas junto com o Carlos não.
Fantástico
– E este encontro que vocês tiveram com o governador Agnelo Queiroz nos Estados
Unidos? Vocês discutiram política ou foi um encontro social?
Andressa
– Desculpa, com?
Fantástico
– Com o governador Agnelo Queiroz.
Andressa
– Nos Estados Unidos?
Fantástico
– É.
Andressa
– Eu não conheço o governador do Distrito Federal.
Fantástico
– Vocês não se encontraram nos Estados Unidos?
Andressa
– Não, não nos encontramos.
Fantástico
– Vocês nunca se encontraram? Você, junto com o Carlos, nunca se encontraram
com ele?
Andressa
– Não, nunca vi.
Fantástico
– Nunca teve um contato...
Andressa
– Nunca.
Fantástico
– E com o Fernando Cavendish?
Andressa
– O Fernando teve algumas vezes aqui em Goiânia, mas eu nunca o encontrei. O
Carlos provavelmente deve ter encontrado, mas eu nunca encontrei.
Fantástico
– Qual é o relacionamento deles, dele com a Delta?
Andressa
– Eu acredito que o Carlos era uma espécie de consultor da empresa. Não só da
Delta, mas de algumas outras empresas em Goiás.
Fantástico
– Mas ele é consultor muito próximo, ele tinha um relacionamento muito próximo
com o Cláudio Abreu, por exemplo?
Andressa
– Um relacionamento, acho, de amizade com o diretor da empresa.
Fantástico
– Isso envolvia troca de favores? Avião emprestado?
Andressa
– Talvez sim.
Fantástico
– E ele dizia qual era a natureza dessa consultoria que ele prestava?
Andressa
– Não. Para mim não dizia.
Fantástico
– Quando o seu ex-marido foi vice do senador Demóstenes, quando ele foi
indicado a suplente, o Carlos tinha contato com senadores, ele teve algum papel
na indicação do seu ex-marido como suplente?
Andressa
– Eles eram muito amigos. Eram próximos. Eram amigos. Falavam muito sobre
política. Provavelmente, sim. Devem ter falado bastante sobre esse assunto sim.
Fantástico
– Algumas gravações que apareceram na imprensa foram feitas pelo próprio
Carlos. Depois divulgadas. Ele costumava gravar muito as conversas que ele
tinha, filmar?
Andressa
– Eu não sei te responder isso. Eu nunca vi e não participei disso. Não sei te
responder.
Fantástico
– A vida cotidiana de vocês, alguma vez ele filmou?
Andressa
– Absolutamente. Não.
Fantástico
– A polícia diz que o espião que trabalhava para ele fazia escutas telefônicas,
grampeava, você alguma vez foi grampeada?
Andressa
– Devo ter sido grampeada pela polícia. Provavelmente.
Fantástico
– Qual seria o objetivo da Polícia em grampear o seu telefone?
Andressa
– Não sei. Talvez interceptar alguma conversa minha com o Carlos, já que ele
foi grampeado durante muito tempo.
Fantástico
– O fato dele ter essas gravações, algumas já são conhecidas, públicas, foram
feitas por ele, o que você acha que motivava ele a fazer isso?
Andressa
– Talvez mostrar a verdade para as pessoas, para o País?
Fantástico
– A verdade do que?
Andressa
– Não sei. Quem cobra propina, quem achaca empresários, talvez.
Fantástico
– A polícia diz que essas gravações estavam sendo usadas para chantagear
políticos e funcionários do governo para que fizessem o que ele queria...
Andressa
– Meu marido não é chantagista. Ele é um homem bom.
Fantástico
– Você já teve oportunidade de fazer uma visita íntima na prisão?
Andressa
– Não.
Fantástico
– Isso foi agendado, foi solicitado?
Andressa
– Não, ainda não.
Fantástico
– Vocês ainda se veem através do vidro?
Andressa
– Agora neste novo presídio vamos ter visita social. Na federal acontecia
visita social, entre aspas, pelo vidro. Ao meu ver, não é uma visita social.
Fantástico
– Essa visita agora, então, vai permitir um contato físico?
Andressa
– Contato físico.
Fantástico
– Mas não visita íntima?
Andressa
– Também.
Fantástico
– Quando a Comissão de Ética do Senado recomendou a cassação do senador
Demóstenes, qual foi a reação do Carlos?
Andressa
– O Carlos estava muito debilitado em Mossoró, estava doente, perdeu quase 20
quilos, e acho que não estava nem em condições de avaliar a situação do
Demóstenes.
Fantástico
– Eles eram próximos? Ele e o Demóstenes?
Andressa
– Eles eram amigos. Amigos sim.
Fantástico
– O seu relacionamento com ele é de muito antes de vocês irem morar juntos?
Andressa
– Não.
Fantástico
– Vocês estavam planejando se casar quando ele foi preso. Alguma coisa mudou
nos planos?
Andressa
– Não, vamos nos casar.
Fantástico
– E se ele não for solto?
Andressa
– Vamos nos casar.
Fantástico
– Você vai se casar mesmo com ele preso?
Andressa
– Mesmo com ele preso.
Fantástico
– Você vai (não entendi)?
Andressa
– Não. Mas ele vai ser solto. Quero poder acreditar na justiça desse país.
Quero acreditar que não tem mandatário, político mandando na nossa justiça.
Fantástico
– Você sabe qual é o paradeiro de Giovani Pereira da Silva?
Andressa
– Não.
Fantástico
– O que aconteceu com ele?
Andressa
– Está foragido.
Fantástico
– Por que ele continua foragido, já que ele é um funcionário do Carlos?
Andressa
– Não consigo te responder isso. A defesa dele vai poder falar.
Fantástico
– O governador do Estado do Rio de Janeiro também tem sido citado nessas
investigações. Em algum momento vocês encontraram Sérgio Cabral?
Andressa
– Não. Nunca o vi.
Fantástico
– No momento em que houve um acidente na Bahia, em que inclusive morreu a
mulher do Cavendish, o Carlos foi acionado para mandar avião, prestar socorro e
tudo o mais. Ele era muito próximo do Cavendish então?
Andressa
– Talvez um pedido do Cláudio, que é muito amigo do Carlos, muito próximo.
Talvez isso. O Carlos é um homem muito solícito, um homem onde as pessoas
sempre recorrem. Ele é um homem bom, não fala não para ninguém. Talvez por
isso.
Fantástico
– Ele é operador de caça-níquel?
Andressa
– Não.
Fantástico
– Ele nunca teve máquina caça-níquel?
Andressa
– Eu não sei te responder. Acredito que não.
Fantástico
– Vocês nunca discutiram esse assunto?
Andressa
– Não que eu me lembre.
Fantástico
– Em maio do ano passado, o Fantástico fez uma reportagem em que ele era
apontado pela polícia como o operador de várias casas de caça-níqueis. Você não
ficou sabendo dessa reportagem?
Andressa
– Não. Não fiquei. Eu tenho certeza que ele nunca teve casas de caça-níquel, de
bingo. Absolutamente.
Fantástico
– Quando o médium João de Deus... Você conhece João de Deus?
Andressa
– Já o vi aqui, na casa do meu sogro. Ele vinha orar para a minha sogra, que
faleceu.
Fantástico
– Quando ele foi visitar o presidente Lula, em São Paulo, foi o Carlos quem
arranjou a visita, cedeu o avião?
Andressa
– Não sei te responder.
Fantástico
– Mas vocês têm contato com o João de Deus? A família é espírita?
Andressa
– Acho que não. Não sei. Acredito que não. Mas ele é uma pessoa que mora em
Anápolis, é uma figura fácil aqui. Ele ora pelas pessoas que estão doentes. Ele
veio orar pela minha sogra algumas vezes.
Fantástico
– Como é que as suas crianças estão reagindo a isso tudo?
Andressa
– Saudade. Não entendem, não tem muita idade para entender.
Fantástico
– Que idade elas têm?
Andressa
– Seis e quatro. Mas o Carlos é uma pessoa que faz muita falta na vida de todos
nós, principalmente para as crianças. É muito amoroso.
Fantástico
– Você acha que o Carlos, ao longo da história dele, como é que ele construiu
essa reputação de contraventor e de manipulador de políticos, quando você
afirma com tanta convicção de que ele opera na legalidade, como empresário?
Andressa
– Ele vem de uma família onde o pai dele era bicheiro, talvez sobrenome,
Cachoeira, na família ser uma tradição. Enfim. Não acredito que ele venha a
ser.
Fantástico
– Como é que ele construiu essa reputação de contraventor, de manipulador de
políticos, de corruptor, de corrupção ativa e passiva, se você afirma com tanta
convicção de que ele é um empresário que opera na legalidade?
Andressa
– Acho que foi muitas vezes achacado, chantageado e acredito nele. Acredito na
versão dele. E acredito que ele é um homem bom.
Fantástico
– Achacado por quem?
Andressa
– Talvez políticos.
Fantástico
– Quais políticos?
Andressa
– Não saberia falar. Mas...
Fantástico
– Você acha que ele está disposto a dizer o nome desses políticos no
depoimento?
Andressa
– Talvez. Talvez sim.
Fantástico
– Qual é a esperança que você tem agora de que ele será solto? Qual é a
possibilidade real?
Andressa
– A prisão dele, na minha opinião, já está ilegal. Então ele tem possibilidades
reais de ser solto a qualquer momento. Não é? Uma vez que todas as pessoas que
tinham mandado de prisão na Operação Monte Carlo estão soltas, por que só ele
ficar preso? Por que a juíza que soltou todos da Operação São MIchel, que
revogou todos os pedidos de prisão na Operação São Michel, não soltou ele? Pra
mim é estranho, pra mim é discriminatório. O juiz vai na televisão, dois dias
antes de um julgamento importante para ele, onde ele ia ser julgado, ia ser
importante para a soltura dele, vai na imprensa e diz: 'fui ameacado'. A
procuradora diz: 'fui ameaçada'. E insinua que foram ameaçados por nós. Ora,
nós queremos que a polícia federal investigue. Nós somos pessoas de bem. Ele é
um homem de bem. Ele não pode sofrer essa injustiça. Isso não pode ser jogado
na conta dele. Queremos que a polícia investigue e somos solidários à família. Tanto
do juiz quanto dos procuradores, que se dizem ameaçados.
Fantástico
– De onde pode ter partido essa denúncia de ameaça? Na sua teoria.
Andressa
– A polícia prescisa descobrir. De gente que está se prestando a fazer o mal.
Gente que, com certeza, de bem não é.
Fantástico
– Quem é que você acha que tem interesse nele preso hoje?
Andressa
– Políticos, talvez? A quem interessa a prisão dele, eu pergunto? Por que estão
mantendo ele preso? Por que desembargadores e ministros dão a negativa
para ele ir a julgamento e, no outro dia, recebem promoções? Quero acreditar,
quero poder acreditar que justiça desse país vai ser imparcial.
Fantástico
– Você vê o ânimo dele se deteriorando ao longo deste tempo na prisão?
Andressa
– Ele está doente, está doente psicologicamente, fraco, perturbado, mas está
bem. Está preso há quatro meses, não são quatro dias.
Fantástico
– Ele tá numa cela comum?
Andressa
– Está numa cela comum.
Fantástico
– Por que ele brigou na cadeia?
Andressa
– Ele brigou porque estava passando um programa onde incita a violência, onde
tava uma pessoa baleada e ele é avesso a esse tipo de programa. E ele pediu
para desligar esse programa, que é logo após o almoço. E os outros presos, aí
começou uma discussão, porque eles não queriam que desligasse. E ele ficou
irritado, porque ele esse não é um programa que eleva a alma de ninguém, muito
menos de quem está preso.
Fantástico
– E isso piorou um pouco a situação dele?
Andressa
– Piorou, mas ele também foi mantido algemado dentro da cela por horas. Isso
não é cárcere privado? A polícia pode fazer isso?
Fantástico
– Ele foi algemado porque foi agressivo?
Andressa
– Não, ele não é agressivo. Pelo contrário. É um homem doce. Ele foi algemado
porque ele é único. E que tem pedido socorro. Tá gritando por socorro pra
justiça brasileira olhar para o caso dele. Ele tem direito a responder em
liberdade. É isso o que a gente espera. A pessoa no Brasil hoje mata a esposa,
conheço vários casos, inclusive, na minha cidade. O homem matou a esposa com um
tiro na face e não ficou nem um dia preso. Quel mal o meu marido fez? Volto a
repetir. Que mal ele fez? Ele não fez mal a ninguém. Ele é uma pessoa que só
faz bem às pessoas. Só o bem. Esse é o Carlos que eu conheço.
Fantástico
– Mas se ele fez mesmo corrupção ativa e passiva, não faz mal a alguém?
Contrabando, lavagem de dinheiro?
Andressa
– Ele é inocente.
Fantástico
– Contravenção?
Andressa
– Ele é inocente. Precisa de liberdade para ele poder se defender. Ele precisa
provar que é inocente.
Fantástico
– Eu gostaria de voltar uma pergunta que eu fiz antes porque eu queria que você
elaborasse um pouco mais. Na declaração de Imposto de Renda dele, ele declara
uma renda de $ 20 mil por mês, sendo que em apenas um mês, o cartão de crédito
dele foi de R$ 500 mil e o seu de $ 60 e poucos mil. E ele estava pagando por
essa conta. Qual a fonte de tanto dinheiro? Mesmo a indústria farmacêutica pode
produzir tanto lucro para sustentar esse tipo de gasto?
Andressa
– Não só ele tava pagando por essa conta. Eu também ajudo ele a pagar as
contas. Ele não paga todas as minhas contas. Eu tenho uma boa pensão, tenho o
pró-labore, fruto do meu trabalho, da moinha empresa. E eu acredito que, se ele
comprou, ele tinha de onde tirar.
Fantástico
– Você acha que ele não tem nenhuma fonte ilícita de rendimento?
Andressa
– Não acredito.
Fonte – Brasil 247
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