Por Fábio Lúcio
Quem explica o que aconteceu com as senhoras
paulistas que se dizem traídas por Demóstenes Torres é Eliseo Verón, autor de
Fragmentos de um tecido (Editora Unisinos), entre outros bons livros sobre
mídia e recepção. Acontece que elas, essas senhoras, fizeram um "contrato
de leitura" com os veículos de comunicação que estão acostumadas a ler. Os
veículos de comunicação delas provavelmente são aqueles que desenhavam
Demóstenes Torres como mosqueteiro da moralidade, como ele aparecei,
literalmente numa caricatura, na capa da Veja. Daí uma delas falar, a
ex-presidente do Clube Paineiras de São Paulo (ou seja, por ser de São Paulo
suponho que nunca votou em Demóstenes, que provavelmente ele nunca prometeu
nada a ela), que se sentiu traída por Demóstenes Torres. O contrato de leitura
que ela tem com os veículos jamais deixará cair a ficha de que ela foi traída
na verdade pelo jornal e pela revista que cacifavam Demóstenes, porque este
jogava no campo político que interessava a esses veículos. E isso acontece
porque admitir isso seria admitir que fez uma escolha errada, ou que os
sentidos que ela construiu lendo esses veículos precisam ser revistos, e que
tudo o que ela tem conversado com as amigas e tem dito estava errado por causa
das escolhas anteriores.
É o que o Verón chama de curto-circuito
provocado pela ação das mídias nas instituições políticas.Não se trata aqui só
de ser manipulada por um veículo que ganharia mais com outro governo. Mas de
ser para ela, possivelmente uma anti-petista, confortável ser instruída em sua
criação de sentidos por um veículo anti-petista. A mídia oferece um álibi para
ela defender sua posição política (e não só ela, creio que todos fazemos o
mesmo). O problema é quando a relação, o contrato, ganha o status de ação
silenciosa e transparente, ou seja, passa-se ingenuamente por cima desse
mediador, que é tido como colado verdade dos fatos. É quando os fatos, ou os
senadores com quem não temos nenhuma relaçãpo, começam a nos trair.
Fonte
Blog do Nassif
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