Por Christina Lemos no seu Blog do R7
O senado vive nos últimos
dias um de seus momentos mais constrangedores. Os poucos senadores presentes ao
plenário – não mais que seis nos últimos dois dias - ouvem calados, sem
qualquer intenção de pedir apartes, a última, desesperada tentativa de Demóstenes
Torres de salvar seu mandato. Ao contrário do que fez nos últimos quatro meses,
o senador sem partido vem ocupando diariamente a tribuna para fazer a própria
defesa.
Demóstenes repete tristemente
queixas de linchamento público e midiático, de erros e arbitrariedade na
investigação policial, de pré-julgamento, de desmonte de sua reputação, e assim
por diante. Fala para ouvidos moucos – e poucos. Apesar de alertar seus pares
de que os métodos que estão prestes a levá-lo à perda de mandato podem também
atingi-los um dia, não há fatos novos em seu discurso que possam reverter o
enorme desgaste de sua imagem.
Do presidente da Comissão de
Constituição e Justiça, Eunício Oliveira, obteve a garantia de ampla defesa
nesta quarta, quando será julgada a legalidade e a constitucionalidade do
processo de cassação. E só. Resta uma semana até a sessão secreta que
provavelmente irá sacramentar a sentença condenatória.
São discursos difíceis de
ouvir, os do senador. Principalmente por trazerem argumentos que Demóstenes
costumava reduzir a pó, quando no papel de promotor e não de réu. Comparado à
sua história pessoal, o paradoxo de hoje fica evidente, ao vê-lo da tribuna,
desfiar dramaticamente suas agruras e sustentar inocência.
Os diálogos grampeados com
Carlos Cachoeira foram selecionados e montados pela polícia, jamais utilizou o
mandato em favor do crime, nunca teve negócios com o contraventor, nunca fez o
que os policiais interpretaram a partir de suas palavras – a verdade do senador
já não convence, como convencia quando esteve no papel de algoz. É mais fácil
acusar que defender - dura lição.
Demóstenes Torres até comove,
mas não mais convence. Na troca de papéis, está provando o amargo sabor de ser
réu em um processo político. A única sorte que tem é não ter nenhum Demóstenes
no papel de acusador. Seria ainda pior.
Christina Lemos é jornalista em Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário