4 de julho de 2012

Triste fim de um senador


Por Christina Lemos no seu Blog do R7

O senado vive nos últimos dias um de seus momentos mais constrangedores. Os poucos senadores presentes ao plenário – não mais que seis nos últimos dois dias  - ouvem calados, sem qualquer intenção de pedir apartes, a última, desesperada tentativa de Demóstenes Torres de salvar seu mandato. Ao contrário do que fez nos últimos quatro meses, o senador sem partido vem ocupando diariamente a tribuna para fazer a própria defesa.
Demóstenes repete tristemente queixas de linchamento público e midiático, de erros e arbitrariedade na investigação policial, de pré-julgamento, de desmonte de sua reputação, e assim por diante. Fala para ouvidos moucos – e poucos. Apesar de alertar seus pares de que os métodos que estão prestes a levá-lo à perda de mandato podem também atingi-los um dia, não há fatos novos em seu discurso que possam reverter o enorme desgaste de sua imagem.
Do presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Eunício Oliveira, obteve a garantia de ampla defesa nesta quarta, quando será julgada a legalidade e a constitucionalidade do processo de cassação. E só. Resta uma semana até a sessão secreta que provavelmente irá sacramentar a sentença condenatória.
São discursos difíceis de ouvir, os do senador. Principalmente por trazerem argumentos que Demóstenes costumava reduzir a pó, quando no papel de promotor e não de réu. Comparado à sua história pessoal, o paradoxo de hoje fica evidente, ao vê-lo da tribuna, desfiar dramaticamente suas agruras e sustentar inocência.
Os diálogos grampeados com Carlos Cachoeira foram selecionados e montados pela polícia, jamais utilizou o mandato em favor do crime, nunca teve negócios com o contraventor, nunca fez o que os policiais interpretaram a partir de suas palavras – a verdade do senador já não convence, como convencia quando esteve no papel de algoz. É mais fácil acusar que defender - dura lição.
Demóstenes Torres até comove, mas não mais convence. Na troca de papéis, está provando o amargo sabor de ser réu em um processo político. A única sorte que tem é não ter nenhum Demóstenes no papel de acusador. Seria ainda pior.

Christina Lemos é jornalista em Brasília.

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