Publicitário Marcos
Valério falou oficialmente à procuradora Cláudia Sampaio, mulher do procurador
geral Roberto Gurgel; frase a frase que, reveladas no tempo certo, poderiam até
abrir processo de impeachment contra Lula, foram parar no Estadão; quem vazou?;
funcionários públicos em busca do brilho das manchetes ou um condenado atrás de
vitimização e vingança?; caminho jurídico institucional parece não existir mais
247 –
Relatórios de depoimentos sigilosos à Procuradoria Geral da República não voam
soltos ao vento de Brasília. Se um deles – e logo o mais bombástico dos últimos
tempos – pousou sobre as páginas do jornal O Estado de S. Paulo, foi porque
alguém o vazou, como se diz na linguagem jornalística. Como se sabe, vazar
significa entregar uma informação sigilosa a alguém. No caso, a de que o
ex-presidente Lula valeu-se de dinheiro privado, repassado pelo próprio
depoente, o publicitário Marcos Valério, para o pagamento de suas contas
pessoais. Uma informação do mesmo tipo da que, durante a presidência de
Fernando Collor, levou ao impeachment do titular. Acrescida, agora, de uma
ameaça de morte em relação a Valério, feita pelo braço direito de Lula na vida
particular, o ex-presidente do Sebrae Paulo Okamoto.
Por todos os ângulos, a história do depoimento sigiloso
de Valério à PGR tem elementos altamente explosivos. A primeira pergunta que se
coloca, no entanto, é: como este depoimento capaz de pautar até mesmo a
sucessão presidencial de 2014 foi parar na mídia antes de ter seguimento nos
percursos institucionais do Poder Judiciário?
Feito por Valério, em setembro, à mulher do
procurador geral Roberto Gurgel, a também procuradora da República Claudia
Sampaio, terá sido um deles que entregou o conteúdo da peça ao Estadão? Seria,
igualmente, um fato grave, dado que, com amplos poderes, e cientes das
acusações formais de Valério contra o ex-presidente desde setembro, por que
Gurgel e Cláudia teriam preferido o espetáculo das manchetes em lugar do
procedimento imediato pelos canais institucionais? Interesse político? Vontade
de brilhar nas páginas?
Se foi mesmo da PGR o vazamento, o fato é ainda
mais grave. Ao procurar a instituição, Valério citou uma ameaça de morte feita
a ele, numa frase torta, pelo petista Okamoto. Naturalmente assustado, ele deve
ter considerado que, ao registrar formalmente sua palavra, estaria se
protegendo. A divulgação rasgada de sua confissão, no entanto, o expõe em todas
as frentes. Para o caso de cumprir pena pela Ação Penal 470, será visto por
seus pares na cadeia como um delator, um alcaguete. O vazamento, neste sentido,
coloca desde já a vida do publicitário sob risco ainda maior do que antes.
A segunda hipótese para o vazamento que,
efetivamente, ocorreu, é a de ter sido o próprio Marcos Valério o autor da
entrega do "ouro em pó", como muitos jornalistas classificam uma
matéria tão importante quanto aquela, de seu depoimento ao Estadão. Nesse caso,
não há como não interpretar o possível gesto como um movimento desesperado em
busca de alívio para as condenações em série que ele sofreu no Supremo Tribunal
Federal. Uma vendeta sobre Lula e o PT, de um lado, combinada com uma
estratégia defensiva de tentar, como delator de primeira hora, escapar de uma
segunda grande encrenca jurídica – a que ele mesmo, Valério, se disse outra vez
patrocinador, na qual está enfiado até a medula, mas que, pelo caminho da
mídia, pode até se passar como vítima. Caso tenha sido o autor do vazamento,
Valério estaria buscando para si o mesmo papel que o presidente do PTB, Roberto
Jefferson, teve na Ação Penal 470. É de se lembrar que, entre todos os réus,
Jefferson foi o que obteve a menor condenação.
Nas duas possibilidades – vazamento pela
estrutura da Procuradoria Geral da República ou pela picardia de Valério --, a
divulgação do depoimento bomba, que narra situações tidas como verdadeiras pela
versão de um único personagem, aponta mais numa vez para a vitimização do
delator, espetacularização da justiça e condenação antecipada dos acusados.
Mais uma vitória do ambiente de geléia geral que mistura agentes públicos,
bandidos e jornalistas nesta quadra da política nacional. O ir em frente deve
significar, certamente, a abertura de um inquérito que, por sua vez, dará
margem a grandes e emocionantes vazamentos. É esperar só um pouquinho para
curtir.
Fonte – Brasil247
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