Ivan Lessa nascido em 9 demaio 1935 faleceu nessa Sexta-feira 8 de junho de 2012
Thomas Pappon da BBC
Brasil
Ivan Lessa certamente será lembrado como a
principal cabeça pensante dos tempos áureos do Pasquim e pelo seu texto
refinado e ácido - muitas vezes aberto a interpretações distintas, mas que
rendeu-lhe a fama de um dos grandes escritores brasileiros.
Ele
reverenciava as regras da arte de escrever, que dominava. Entregava sua coluna
religiosamente um dia antes da publicação prevista; erros de gramática e
regência ou colocações sem sentido, não os havia.
Se
via como cronista, um comentador de fatos pescados de jornais e noticiários, na
tradição de Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto, Rubem Braga e Fernando Sabino.
“Não
sou jornalista”, dizia, enfático, na cantina da BBC - onde confraternizava com
os colegas de trabalho, nos três dias da semana em que vinha para Bush House,
antiga sede do Serviço Mundial.
Mas
falava com muito orgulho de seu - talvez - único trabalho com o “repórter” da
BBC Brasil: de quando entrevistou, em Londres, o ícone do jazz Billy Eckstine.
Ivan
Lessa amava Eckstine. E amava Frank Sinatra, Dick Haymes, Frankie Laine, Sammy
Davis Jr., Joe Mooney e um monte de crooners obscuros que conheceu nos anos 40
e 50, junto com a rapaziada que co-frequentava as Lojas Murray, no Rio, e que
tramou a Bossa Nova - entre eles Joao Gilberto, que, em 2000, quando veio a
Londres para um show no Barbican, ficou mais de uma hora no telefone com Ivan,
trocado conversa fiada e cantando sambas antigos.
Maior
que o amor pela música, só o amor pelo cinema. Ivan sabia tudo da Hollywood dos
anos 40 e 50, e nutria um orgulho especial por ter conhecido atores e
roteiristas americanos no Rio de Janeiro ou mesmo nos EUA, apresentados pelo
seu pai, o escritor Orígenes Lessa, que trabalhou anos como uma espécie de
lobista cultural fazendo um meio campo entre EUA e Brasil.
Ivan
detestava o cinema brasileiro, que considerava amador, mas gostava de falar do
ator José Lewgoy, seu grande amigo, e não escondia o orgulho de estar listado
no IMBD como “actor“ ligado a filmes brasileiros.
Nos
anos 50, Ivan foi ator mirim em dois ou três filmes, entre eles "Maior Que
o Ódio" - em que contracena com Agnaldo Rayol -, dirigido por Jose Carlos
Burle, estrelado por Anselmo Duarte.
Nos
quase 15 anos em que convivi com o Ivan, raramente vi ele tão feliz como quando
ele soube que suas cenas em "Maior Que o Ódio" tinham sido colocadas
no YouTube.
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