Por Bob Fernandes
Como
previsível desde a segunda-feira (18), Erundina desistiu de ser candidata a
vice-prefeita na aliança do PSB com o PT. A desastrosa foto-aliança de Fernando
Haddad e Lula com Paulo Maluf deixou consequências e lições.
Toda
semana conversamos aqui. Estes são tempos de maniqueísmo exacerbado. O
maniqueísmo costuma levar à desinformação e inflar a burrice, quando não também
o ódio, seja ideológico, religioso, o que for. Por isso, nas nossas conversas,
a intenção de perceber os fatos por seus diversos ângulos e matizes.
Haddad
e o PT cometeram erros brutais, inclusive de avaliação. Ficou claro que são
cardeais do PT, e não o candidato Haddad, que pilotam as engrenagens da
candidatura. Outros personagens nesse enredo são Erundina e Lula; Maluf e sua
conhecidíssima história dispensam maiores comentários.
Percebido
no atacado, o episódio indica comportamento exemplar de Erundina. Pedagógico.
Ela mostrou que nem tudo na política precisa ser esperteza e pilantragem. Visto
no varejo, nos detalhes, o enredo leva às dúvidas.
Pelo
que se sabe, Erundina, como tanta gente, chocou-se com a foto de Lula e Haddad
com Maluf. Mas a Foto é mais importante do que o Fato? Na sexta-feira (15),
quando Erundina aceitou ser vice, já era fato que Haddad fecharia com Maluf.
Erundina sabia disso. Por que, então, aceitou ser vice?
Ao
que parece, a foto com Maluf reacendeu antigas razões e feridas de Erundina.
Razões e feridas com o PT. E com Lula.
O
que os olhos não veem o coração não sente?
E
Lula? Há três meses, escassos três meses, Lula lutava contra o câncer. Luta
pela vida e contra a morte. Quem já sofreu ou viu isso de perto sabe da
brutalidade, das muitas e variadas sequelas. Sequelas de toda ordem.
Nesta
semana, por exemplo, um freio de arrumação depois da crise da foto-aliança.
Foram cancelados compromissos que não levavam em conta o estágio da recuperação
do ex-presidente.
Lula
é um cidadão que ainda tem poder. Muito poder. Quem tem tanto poder tem
assessores. Tem também o cerco dos áulicos. Das áulicas. E, num ano de eleição,
de "amigos" e "aliados" que o querem para tudo.
Os
médicos dizem que, por conta do tratamento, a garganta de Lula ainda está
inflamada. Ele não pode e não deve falar. Por isso, mesmo de volta à cena, Lula
quase não fala. Outros falam por ele. Ou dizem falar por ele. Se escreve, se
diz que Lula disse isso, Lula fez aquilo; não importa se é verdadeiro ou não.
Se está escrito, se está dito… é fato.
Acumulam-se
os erros. E Lula segue em silêncio. Sem dizer o que fez ou não, e porque fez ou
deixou de fazer. Assessores, ou áulicos, ou aliados, falam por ele.
Lula,
que deixou o governo com 90% de aprovação, vai gastando algo do seu prestígio.
Enorme prestígio, mesmo que disso discordem os 10% que o desaprovam. Estes
vibram e magnificam cada erro. A cada erro, percebe-se na internet: os que
vivem para desejar a morte de Lula - diz o que pensa e fez ou faz, ou se
"cala". E cala quem diz agir e falar por ele.política ou mesmo
física- festejam nas redes sociais. Cliquem e confiram.
Pessoas
próximas a Lula entendem que ele deveria se preservar. Antes de qualquer coisa,
deveria se recuperar totalmente das sequelas da recente batalha pela vida.
Estes
próximos entendem que um Lula calado, sem poder falar, deveria sair de cena. E
só voltar quando pleno de corpo, alma…e fala. Para esses, que são amigos, ou
Lula fala,
Bob
Fernandes Foi redator-chefe de CartaCapital. Trabalhou em IstoÉ (BSB e EUA) e
Veja. Repórter da Folha de S.Paulo e JB, fez "São Paulo, Brasil" no
GNT/TV Cultura. Comentarista
da TVGazeta e Rádio Metrópole (BA)
Fonte Terra
magazine
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