21 de junho de 2012

Lula, prisioneiro do silêncio em meio às crises


Por Bob Fernandes

Como previsível desde a segunda-feira (18), Erundina desistiu de ser candidata a vice-prefeita na aliança do PSB com o PT. A desastrosa foto-aliança de Fernando Haddad e Lula com Paulo Maluf deixou consequências e lições.
Toda semana conversamos aqui. Estes são tempos de maniqueísmo exacerbado. O maniqueísmo costuma levar à desinformação e inflar a burrice, quando não também o ódio, seja ideológico, religioso, o que for. Por isso, nas nossas conversas, a intenção de perceber os fatos por seus diversos ângulos e matizes.
Haddad e o PT cometeram erros brutais, inclusive de avaliação. Ficou claro que são cardeais do PT, e não o candidato Haddad, que pilotam as engrenagens da candidatura. Outros personagens nesse enredo são Erundina e Lula; Maluf e sua conhecidíssima história dispensam maiores comentários.

Percebido no atacado, o episódio indica comportamento exemplar de Erundina. Pedagógico. Ela mostrou que nem tudo na política precisa ser esperteza e pilantragem. Visto no varejo, nos detalhes, o enredo leva às dúvidas.
Pelo que se sabe, Erundina, como tanta gente, chocou-se com a foto de Lula e Haddad com Maluf. Mas a Foto é mais importante do que o Fato? Na sexta-feira (15), quando Erundina aceitou ser vice, já era fato que Haddad fecharia com Maluf. Erundina sabia disso. Por que, então, aceitou ser vice?
Ao que parece, a foto com Maluf reacendeu antigas razões e feridas de Erundina. Razões e feridas com o PT. E com Lula.
O que os olhos não veem o coração não sente?
E Lula? Há três meses, escassos três meses, Lula lutava contra o câncer. Luta pela vida e contra a morte. Quem já sofreu ou viu isso de perto sabe da brutalidade, das muitas e variadas sequelas. Sequelas de toda ordem. 
Nesta semana, por exemplo, um freio de arrumação depois da crise da foto-aliança. Foram cancelados compromissos que não levavam em conta o estágio da recuperação do ex-presidente.
Lula é um cidadão que ainda tem poder. Muito poder. Quem tem tanto poder tem assessores. Tem também o cerco dos áulicos. Das áulicas. E, num ano de eleição, de "amigos"  e "aliados" que o querem para tudo.
Os médicos dizem que, por conta do tratamento, a garganta de Lula ainda está inflamada. Ele não pode e não deve falar. Por isso, mesmo de volta à cena, Lula quase não fala. Outros falam por ele. Ou dizem falar por ele. Se escreve, se diz que Lula disse isso, Lula fez aquilo; não importa se é verdadeiro ou não. Se está escrito, se está dito… é fato.
Acumulam-se os erros. E Lula segue em silêncio. Sem dizer o que fez ou não, e porque fez ou deixou de fazer. Assessores, ou áulicos, ou aliados, falam por ele.
Lula, que deixou o governo com 90% de aprovação, vai gastando algo do seu prestígio. Enorme prestígio, mesmo que disso discordem os 10% que o desaprovam. Estes vibram e magnificam cada erro. A cada erro, percebe-se na internet: os que vivem para desejar a morte de Lula - diz o que pensa e fez ou faz,  ou se "cala". E cala quem diz agir e falar por ele.política ou mesmo física- festejam nas redes sociais. Cliquem e confiram.
Pessoas próximas a Lula entendem que ele deveria se preservar. Antes de qualquer coisa, deveria se recuperar totalmente das sequelas da recente batalha pela vida.
Estes próximos entendem que um Lula calado, sem poder falar, deveria sair de cena. E só voltar quando pleno de corpo, alma…e fala. Para esses, que são amigos, ou Lula fala,

Bob Fernandes Foi redator-chefe de CartaCapital. Trabalhou em IstoÉ (BSB e EUA) e Veja. Repórter da Folha de S.Paulo e JB, fez "São Paulo, Brasil" no GNT/TV Cultura. Comentarista da TVGazeta e Rádio Metrópole (BA)
Fonte Terra magazine

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