Reproduzido pelo Correio do Brasil: A lista com os casos de
corrupção mais gritantes entre 1980 e 2011, divulgada sem muito alarde por
segmento do Banco Mundial (Bird), na noite passada, repercutiu na manhã desta
sexta-feira em mais um episódio negativo para o ministro Gilmar Mendes, que tem
permanecido no noticiário por conta de suas declarações sobre o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, depois por uma briga entre sócios e, agora, por ter
sido citado em um documento internacional como o magistrado que liberou dois
Habeas Corpus (HC), em questão de horas, para o banqueiro Daniel Dantas. Entre
os escândalos listados no estudo do Bird estão registrados seis episódios
brasileiros. O deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) segue no topo da escala,
com duas citações, seguido dos banqueiros Daniel Dantas e Edemar Cid Ferreira;
do ex-subsecretário de Administração Tributária do Rio de Janeiro Rodrigo
Silveirinha Correa; e da ex-executiva de contas do Valley National Bank, Maria
Carolina Nolasco.
Em sua crônica
diária, na internet, o jornalista Paulo Henrique Amorim, lembra que o ministro Mendes
concedeu “dois HCs ao Dantas, em 48 horas, ao ignorar um vídeo que comprova que
Dantas tentou passar bola a agente da Polícia Federal. Pois, foi exatamente
essa ‘passação’ de bola que o Gilmar (Mendes) ignorou um dos atributos que
conferiram a Dantas a estatueta do Oscar da Corrupção, segundo essa
desmoralizada instituição, o Banco Mundial”.
O estudo do Banco
Mundial sobre a corrupção reuniu mais de 100 casos com o uso indevido de ao
menos uma entidade legal ou instrumentos jurídicos para ocultar seus
beneficiários e dissimular a origem, o destino e as etapas intermediárias de
movimentação das quantias desviadas. Na maioria dos casos, o valor movimentado
se igualava ou passava de R$ 1 milhão, na época do esquema. As informações do
projeto, batizado de Grand Corruption Cases Database, podem ser acessadas aqui.
Pena anulada
Dono do banco
Opportunity, Daniel Dantas e a irmã dele, Verônica Dantas, são acusados de
lavagem de dinheiro no Reino Unido e nos EUA, com a operação de um fundo de
investimentos, do qual – de forma transversa – também participou Verônica Serra, filha do candidato
tucano a prefeito de São Paulo, José Serra, segundo denúncia publicada no best
seller A Privataria Tucana. De acordo com a acusação, Dantas teve R$ 46 milhões
bloqueados no Reino Unido.
O banqueiro também
figura na lista por ter sido condenado, em 2008, a 10 anos de prisão pela
tentativa de suborno a um delegado durante a Operação Satiagraha, da Polícia
Federal, realizada contra crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de
divisas e sonegação fiscal. Dantas teria oferecido US$ 1 milhão para que seu
nome e o de integrantes do Opportunity fossem retirados do inquérito. Foi nesta
ocasião que recebeu os HCs do ministro Gilmar Mendes. Em 2011, a pena foi
anulada pelo Superior Tribunal de Justiça, mas o processo ainda permanece ativo
no Judiciário.
Maluf, velho
conhecido
Ex-prefeito e
ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf foi acusado pela Promotoria de Nova
York, EUA, de “conspiração com objetivo de roubar dinheiro da cidade de São
Paulo a fim de possuir fundos no Brasil, Nova York e outros lugares, e ocultar
dinheiro roubado”. A Promotoria aponta que foram desviados recursos do projeto
da avenida Água Espraiada, na capital paulista, e que os valores roubados foram
transferidos para uma conta bancária em Nova York. Depois, os recursos teriam
sido repassados para uma conta nas Ilhas Canal, no Reino Unido. O
procurador-geral do condado de Nova York apontou que R$ 140 milhões passaram
pela principal conta de Maluf no Banco Safra, em Manhattan.
A segunda citação a
Maluf se refere também à suspeita de superfaturamentos e desvios de obras
públicas e remessa de valores a paraísos fiscais. No caso, parte dos valores
teriam sido remetidos à Ilha Jersey, no Reino Unido, por meio de duas empresas
que seriam de propriedade de Maluf e seu filho. Foram bloqueados R$ 26 milhões
depositados na ilha, destaca o Banco Mundial. As acusações levaram o nome de
Maluf à lista de procurados da Organização Internacional de Polícia Criminal
(Interpol). No Brasil, Maluf segue intocável, com um mandato de deputado
federal no Partido Popular (PP), eleito por São Paulo.
Paraísos fiscais
Já o fundador do
Banco Santos, Edmar Cid Ferreira, foi condenado em 2006 a 21 anos de prisão por
crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro durante a gestão, o
que teria levado a instituição financeira à falência, com perdas estimadas em
mais de R$ 1 bilhão. Após intervenção do Banco Central, foram descobertas
irregularidades na concessão de empréstimos a empresas em dificuldades
financeiras no Brasil em troca da compra de títulos e de investimentos em
empresas localizadas em paraísos fiscais. Quadros da coleção do banqueiro,
avaliados em US$ 4 milhões e que teriam sido adquiridos com recursos do banco,
foram localizados nos Estados Unidos e repatriados em 2010.
Edemar Cid Ferreira mora na casa de um amigo, ao lado da mansão de
4 mil m2, avaliada em R$ 50 milhões, onde viveu por 23 anos e acabou despejado
por falta de pagamento de aluguel – uma dívida de R$ 1,7 milhão. Aos 66 anos, o
ex-banqueiro, por meio de seu advogado, Arnaldo Malheiros Filho, recorre da
sentença em liberdade e, segundo ritos e firulas do Judiciário brasileiro, Cid
Ferreira ainda poderá ter sua sentença anulada.
O ex-subsecretário de
Administração Tributária do governo Anthony Garotinho, no Rio de Janeiro, foi
um dos 22 condenados por um esquema de envio de cerca de US$ 30 milhões para a
Suíça, em um escândalo que ficou conhecido como Propinoduto, em 2003.
Participariam do esquema fiscais da Receita Estadual e auditores da Receita
Federal que receberiam propinas de empresas. O fiscal de renda Silveirinha
aparecia como dono de depósitos no valor de US$ 8,7 milhões na Europa.
No caso da portuguesa
naturalizada norte-americana Carolina Nolasco, ela foi detida em 2002 nos
Estados Unidos, acusada de integrar uma rede brasileira de lavagem de dinheiro.
A executiva de contas bancárias teria recebido propina para transferir fundos
do banco Valley National de forma irregular, em um esquema que envolveria 60
pessoas. Em 2004, ela se declarou culpada das operações ilegais e concordou em
devolver US$ 21 milhões depositados em 39 contas do banco Merchants, onde
também havia trabalhado.
Fonte Blog do Saraiva
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