Por
Altamiro Borges
Na quarta-feira passada (6), finalmente o
Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu incluir na pauta o debate sobre o
“mensalão tucano”, o esquema utilizado para alimentar a campanha pela reeleição
do governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) em 1998. A mídia, porém, não deu qualquer
destaque ao assunto. Algumas notinhas informaram apenas que o “mensalão
mineiro” também deverá ser julgado em breve – a imprensa demotucana evita, por
razões óbvias, falar em “mensalão tucano”.
O caso é bastante
emblemático. Ele serve para comprovar a seletividade da chamada grande
imprensa. O escândalo surgiu bem antes das denúncias contra o PT. A própria
Procuradoria-Geral da República, ao encaminhar o caso ao STF em novembro de
2007, afirmou que o esquema foi “a origem e o laboratório” do “mensalão do PT”.
Ele teria sido armado pelo mesmo publicitário Marcos Valério, que montou o
famoso “valerioduto” para financiar campanhas eleitorais com recursos públicos
e doações de empresas privadas.
"Problemas na prestação de contas"
Segundo o Ministério Público Federal, o esquema
usado na campanha frustrada pela reeleição de Eduardo Azeredo, derrotado na
época por Itamar Franco, foi financiado com recursos da Copasa (Companhia de
Saneamento de Minas Gerais), Comig (Companhia Mineradora de Minas Gerais) e
Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais). Cerca de R$ 3,5 milhões foram
repassados à agência de publicidade de Marcos Valério, a SMP&B, e depois
serviram para irrigar o caixa dois da campanha do tucano mineiro.
Numa entrevista à Folha, em setembro de 2007, o
próprio Eduardo Azeredo, hoje deputado federal do PSDB, confirmou que teve
“problemas na prestação de contas da campanha”. Mas, diante das denúncias, ele
fez questão de dizer que os recursos “não contabilizados” não eram apenas para
a sua campanha, “mas dos partidos coligados e que envolvia outros cargos, até
mesmo de presidente da República”. E confirmou que “parte dos custos” da
campanha pela reeleição de FHC foi bancada por seu comitê eleitoral.
Os corredores lúgubres do Judiciário
Apesar das inúmeras provas documentais sobre a
existência do esquema ilegal, até hoje o STF protelava o seu julgamento e a
mídia fazia de conta que ele não existia. A “faca no pescoço”, utilizada para
acelerar o julgamento do “mensalão do PT”, nunca foi usada para apressar o
julgamento do “mensalão tucano”, bem mais antigo. Será que agora os ministros
do STF vão finalmente julgar o caso? Ou ele permanecerá “passeando pelos
corredores lúgubres do Judiciário”, como indaga o blogueiro Antônio Mello.
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