2 de julho de 2012

As Frenéticas: Alguém lembra delas?



 As Frenéticas, para quem não viveu aqueles tempos, foram uma invenção bem bolada de Nelson Motta, dono da discoteca Frenetic Dancing Days, no Rio de Janeiro. A casa foi fundada em 1976, dois anos antes de a novela da Globo ser levada ao ar.
Motta chamou as garotas, que mais tarde formariam o grupo, para trabalhar como garçonetes, mas com um detalhe que acabou originando a carreira artística das meninas no mundo da música.
Durante o trabalho, elas paravam de servir aos fregueses e subiam ao palco para uma apresentação relâmpago. A coisa era para ser apenas um atrativo, sem outra pretensão, mas o público adorou e passou a pedir sempre mais. Daí para o que veio a seguir, foi um passo.
Quando a novela da Globo estreou, em 10 de julho de 1978, a febre das discotecas era um fenômeno mundial. A escolha do título do folhetim global, escrito por Gilberto Braga, foi influenciada pelo sucesso que a Frenetic Dancing Days fazia no Rio de Janeiro.  
Línguas venenosas preferiram insinuar que o “prestígio” de Nelson Motta, que na época era marido da atriz Marília Pêra, teria decidido a questão. Afinal, uma das integrantes do grupo era Sandra Pêra, irmã de Marília. Apenas para ser justo, as demais integrantes do sexteto eram Regina Chaves, Leiloca, Lidoka, Dulci lene de Morais (a Nega Dudu) e a mulata Edir de Castro.

Um esclarecimento: apesar de Nelson Motta ser o criador – meio sem querer – do grupo As Frenéticas, não foi ele quem produziu o primeiro disco, gravado pela Warner Music. Liminha, hoje famoso no meio artístico e ainda em atividade, foi o responsável pela tarefa.
Três integrantes de As Frenéticas, Regina, Leiloca e Lidoka, eram ligadas ao Dzi Croquettes, grupo teatral brasileiro, formado por 13 homens, cujas apresentações nos anos 1970, época da ditadura, eram cercadas de polêmica e apreensão. Mesclando música, dança e esquetes de comédia com muita irreverência e atitude escrachada no palco, costumavam gerar sérios atritos com os militares no poder.
Muito da performance  e das roupas de show de As Frenéticas foi inspirado no Dzi Croquettes. Vestidos, maiôs, franjas, tiaras, colares, meias, cintas ligas, espartilhos e brilhos lembravam a irreverência e a descontração do grupo no qual se espelharam. A fórmula de sucesso das meninas misturava um pouco de teatro de revista, escola de samba, cinema - inclusive chanchada -, mas cada uma delas mantinha a sua própria “cara”. Foi explosão inevitável. Sucesso de crítica e de público. Nelson Motta conta essa história, no link da revista Superinteressante, da editora Abril.
Ainda no vácuo do sucesso da novela Dancing Days, a Werner Music, ou WEA, a “Véia” - como era chamada no circuito profissional, lançou o LP Soltas na vida, em 1979. As meninas, já celebrizadas, incluíram nesse disco um sucesso de Chico Buarque, escrito para a Ópera do Malandro: Ai, se eles me pegam agora. A música girava em torno da rebeldia filial, mesmo enfrentando a reação dos pais se eles soubessem o que a filhinha querida estava aprontando. Bem ao estilo de As Frenéticas e muito a gosto da juventude, como sempre, contestadora e irrequieta.


Mais tarde, em 1983, o grupo teve outra formação, tentando manter a irreverência e a exuberância habituais, mas já não encontrou a mesma ressonância no público Entretanto, a música pop brasileira, nunca mais seria a mesma. E nem, tampouco, conseguiria lançar outro grupo feminino com tamanho sucesso e vigor. As Frenéticas voltaram a se reunir em algumas ocasiões, sempre que a evocação do trabalho delas apontava para uma boa opção, sobretudo em se tratando de novelas da Globo. Você tem acesso aos dados artísticos do grupo e à trajetória dessas mulheres fantásticas, no link do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

Em abril de 2008, Sandra Pêra escreveu um livro sobre a trajetória vitoriosa do sexteto (ao lado).
A foto que registra o lançamento da obra, abaixo, com As Frenéticas já maduras, não tem a presença de Edir de Castro.
O fato é que a formação original do grupo ou qualquer outra - cada uma a seu tempo - é motivo para despertar a lembrança de um fenômeno que, à semelhança da energia de suas integrantes, chegou e passou feito um furacão. A diferença é que em vez de estragos, deixou um rastro imenso de saudade.
Neste link você pode ver o vídeo de uma apresentação do grupo As Frenéticas para o Fantástico da Rede Globo, pelos idos de 1978. Não tenho certeza, mas a narração inicial, curta, me parece que foi de Hilton Gomes. Ou Carlos Campbell. Assista. Abra suas asas e boas recordações!

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