Quatorze
anos depois de supostamente ter ocorrido, sete anos após ser descoberto e quase
cinco anos depois de ser denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR),
o mensalão tucano — chamado de “origem e laboratório” do valerioduto petista
pelo ex-procurador Antonio Fernando Barros e Silva de Souza — ainda não foi
julgado. Diferentemente do esquema do PT, pelo qual todos os réus respondem no
Supremo Tribunal Federal, o processo do mensalão mineiro foi desmembrado entre
STF e a Justiça em Minas.
Em 2007, a PGR denunciou 15 pessoas por peculato
e lavagem de dinheiro. A pedido dos advogados de três réus, o ministro Joaquim
Barbosa, relator do processo, decidiu desmembrá-lo em maio de 2009. Na época,
apenas o então senador Eduardo Azeredo (PSDB), considerado o principal
beneficiário do esquema, tinha foro privilegiado, argumento usado por advogados
de outros réus para pedir a sua divisão. Hoje, o acusado e senador Clésio
Andrade (PMDB) também tem a prerrogativa.
Com a decisão, a denúncia foi remetida à Justiça
mineira, e só Azeredo e Clésio respondem no STF. Uma das justificativas de
Barbosa para a decisão foi o grande número de réus sem foro privilegiado.
— No caso em análise, o motivo relevante que
autoriza o desmembramento é o número excessivo de acusados, dos quais somente
um, o senador Azeredo, detém prerrogativa de foro perante o Supremo — registrou
Barbosa na época. Na quinta-feira, ele bateu boca com o seu colega, ministro
Ricardo Lewandowski, quando o último defendeu o desmembramento do mensalão
petista, que tem 36 réus e apenas três com foro privilegiado.
Sem o crime de formação de quadrilha entre as
acusações do mensalão tucano, Barbosa minimizou possíveis decisões
contraditórias entre o STF e a Justiça mineira:
— Assim, os inconvenientes de eventuais decisões
contraditórias, vislumbrados naquela ocasião pelo plenário desta Corte, seriam
mínimos.
O mensalão tucano teria ocorrido na campanha
pela reeleição do então governador de Minas, Eduardo Azeredo, em 1998. Com traços
semelhantes ao petista, o esquema acabou sendo descoberto nas investigações do
valerioduto em 2005. Marcos Valério também teria sido o operador dos planos
tucanos.
O Supremo ainda não tem previsão para julgar o
caso. Na Justiça mineira, a decisão só deve ser dada no fim de 2013. Em
dezembro de 2013 prescreve o crime de peculato, caso Azeredo seja condenado a
dois anos, pena mínima prevista.
No entanto, em caso de condenação, é provável
que sejam adicionados agravantes em função dos crimes terem sido cometidos mais
de uma vez, segundo a denúncia da PGR.
— A partir da fixação da pena é que se verificam
o tempo percorrido desde a denúncia e a eventual prescrição — explica o
pesquisador Ivar Hartmann, da FGV Direito Rio. Se os réus forem condenados a
mais de quatro anos, o crime de peculato só estaria prescrito em dezembro de
2017
Fonte
- Oglobo
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