“Os autores hoje querem impressionar seus pares.
Um dos livros que fez esse mal à humanidade foi ‘Ulysses’ [clássico do irlandês
James Joyce], que é só estilo. Não tem nada ali. Se você disseca ‘Ulysses’, dá
um tuíte”. Muitos críticos literários e editores de livro tomaram sal de fruta
para digerir essa frase do escritor brasileiro Paulo Coelho, dita à Folha de
S. Paulo no sábado 4, sobre uma das obras clássicas da literatura mundial.
Mas nenhum deles foi mais voraz que Stuart Kelly, crítico de literatura do Guardian,
jornal e portal de notícias de Londres.
Kelly abre seu artigo no blog de literatura do
site usando uma frase do escritor e pensador inglês Samuel Johnson, que
respondia a um crítico no século XVIII: “Uma mosca pode picar um cavalo, mas o
cavalo continua a ser um cavalo, e a mosca não mais que uma mosca.” E inicia
uma ferina argumentação contra a frase e a carreira de Paulo Coelho, cujo
verdadeiro insulto, segundo o crítico, “é sua crença de que devemos ceder a
suas limitações” artísticas.
“Coelho está, claro, autorizado a emitir sua
opinião burra, assim como eu estou autorizado a achar o trabalhar de Coelho um
nauseabundo caldo de egomania e falso misticismo com o intelecto, empatia e destreza
verbal do camembert vencido que ontem joguei fora.”
O crítico do lembra que Paulo Coelho não é o
primeiro a dizer que James Joyce “escreve para outros escritores, não para
leitores”, diz que “sempre que um ataque reacionário surge na literatura
contemporânea, um tiro em Joyce é necessário” e rechaça: só alguém que faça uma
leitura superficial em ‘Ulysses’ poderia dizer a obra “é só estilo”‘.
“Coelho se gaba de ser “moderno” porque ele
consegue ‘fazer o difícil parecer fácil’, diz. E conclui seu tijolaço no
escritor brasileiro dizendo que qualquer coisa que aspire tornar o mundo e as
pessoas menos complexos, menos paradoxais, menos variados comete uma pequena
calúnia com a realidade.
O escritor brasileiro não gostou muito da
crítica e demonstrou isso em seu perfil no Twitter. Passou a primeira metade do
dia tentando argumentar contra a matéria do Guardian e a retuitar quem
não concordou com a crítica. “Guardian diz que insultei leitores de Ulysses. E
meus leitores, insultados todos estes anos?”, indignou-se.
A frase polêmica surge no momento em que Paulo
Coelho se concentra na divulgação de seu último livro, ‘Manuscrito encontrado
em Accra’.
Fonte
Garta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário