28 de agosto de 2012

E se o Dr. Joaquim Barbosa conhecesse as férias na roça?


Era uma vez um juiz de nome Severo, conhecido como "o mão pesada". Não tinha contemplação, nem misericórdia. Todo réu, sobre quem pesasse mínimas provas circunstanciais, era impiedosamente lançado no calabouço.
Ao voltar de umas férias, o juiz mudou completamente de atitude. Passou a aplicar sempre a máxima de "na dúvida, pró réu". Por mais que houvessem provas circunstanciais, se pairassem dúvidas, ninguém mais ia para a cadeia por sentença dele.
Todos os advogados ficavam perplexos com tão radical mudança. Mas ninguém perguntava o motivo, pois o juiz não dava liberdade para tocar no assunto.
Um dia apareceu o Dr. Pacheco no Fórum, um velho colega de turma e amigo pessoal do juiz Severo. Ao tomar conhecimento da história, ficou intrigado e, curioso, não resistiu em perguntar-lhe na primeira oportunidade em que tiveram uma conversa de velhos amigos:

- Diga-me, Dr. Severo, porque é curiosidade de todos, inclusive minha, o que pode ter lhe ocorrido para tornar-se tão liberal em suas sentenças, diante de provas circunstanciais, que antes o levava a decidir pela condenação?
- Meu bom amigo sabe que passei a infância criado na roça, de onde guardo ternas lembranças. Nas minhas férias passei uns dias na fazenda de meu primo, com a Matilde, minha mulher, onde tive o prazer de relembrar doces afazeres da vida brejeira nos tempos de criança.
Acordava com o galo cantando, e um dia, ainda antes do sol nascer, levantei antes da Matilde acordar e fui ao curral tirar leite quentinho da vaca.
Apanhei um balde e caí no trabalho. Só que a vaquinha Florisbela era indócil. Com a pata esquerda derrubava o balde. Então apanhei uma corda e amarrei sua pata esquerda numa estaca.
Aí ela derrubava o balde com a pata direita. Amarrei a direita também.
Sentei num tamborete e reiniciei o trabalho de ordenha. Não é que a Florisbela começou a me chicotear com o rabo, com tal violência, que o jeito foi amarrar sua cauda numa trava do curral.
Foi então que começou o meu drama.

Tive vontade de urinar e, longe do banheiro e sem ninguém ali por perto, resolvi me aliviar ali mesmo. Justo na hora em que tirei o "passarinho" para fora, foi exatamente o momento em que a Matilde, me procurando, entrou no curral e me deu o flagrante.

Até hoje eu tento provar à Matilde que não era nada daquilo que ela estava pensando.

As provas circunstanciais indicavam outra situação que, bem... você sabe como é constrangedor, e não preciso explicar-lhe... mas ela não acredita em minha explicação, por mais que eu jure que é a mais pura verdade.
Desde então, por sentir na própria pele, compreendi como as aparências enganam. Nem sempre espelham a realidade dos fatos, nem as reais intenções do autor, e entendi a importância em ater-me mais detalhadamente nas explicações dos réus que, antes, soava para mim apenas como mero pretexto para escapar da condenação.

-x-x-x-

O conto acima é do site "A Toca do Lobo" com algumas adaptações.

Provas circunstancias, se forem seguras e a defesa não tiver como contestá-las, podem ser suficientes para condenação. Mas se a defesa conseguir mostrar que a verdade dos fatos pode mesmo ser outra, é motivo suficiente para a absolvição.

Fonte – Blog Os amigos do Presidente Lula

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