Por Mauricio Dias
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Tiro no pé. FHC pede
que outra de suas façanhas seja esquecida.
Seu escudeiro Serjão
ainda se ri. Fotos: Reprodução de vídeo
e Epitácio Pessoa/AE
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O fantasma de lula ronda a noite tucana e
transforma o sonho político deles para 2014 em pesadelo. Um terrível pesadelo.
É por essa razão e não por suposta preocupação ética que o PSDB dá atenção e
tratamento especiais ao ex-presidente petista no decorrer do julgamento da Ação
Penal 470, batizada de “mensalão” por Roberto Jefferson, o réu delator de um
suposto esquema de compra de votos, armado em 2005, para a aprovação de
projetos de interesse do governo.
Já de olho na eleição de 2014, os tucanos
pretendem abalar a popularidade e o prestígio de Lula. Assim, o PSDB anuncia
também uma programação própria das sessões no STF na página do partido na
internet. O show precisa continuar.
Essa tática tucana é reafirmada pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na vanguarda das ações contra Lula,
ele aparece na blogosfera em vídeo de 1 minuto e 25 segundos, no qual bota
pressão no Supremo Tribunal Federal (STF). FHC, em linguagem sibilina, usa e
abusa de sociologia rasteira, comum nos botequins e, também, nos bons
restaurantes que frequenta. O tema é o dito mensalão. “O comentário de que não
há punição no Brasil, e que a corrupção é ligada a isso, é frequente…”
Dessa forma, o
ex-presidente abre o discurso sobre o julgamento em andamento no Supremo. Ao
falar de impunidade como estimuladora da corrupção, ele responsabiliza os
juízes, os ministros, a Justiça. Enfim, esbofeteia a própria Têmis. E faz corar
a estátua de granito de Ceschiatti, mantida em frente ao prédio do STF, em
Brasília.
Além de agredir a Magistratura, o ex-presidente
também se agride. Descuidado, atira no próprio pé ao fazer a conexão entre
corrupção e impunidade. Tal aproximação sugere esta pergunta:
Teria ocorrido o chamado mensalão se tivesse
havido punição para os corruptores do governo e os parlamentares corrompidos
para aprovar, no Congresso, a emenda constitucional que deu a FHC a reeleição?
Recordar é viver. Em 1997, surgiram gravações de
escutas telefônicas levantando fortes evidências de que havia um esquema para
compra de votos de deputados arregimentados por Sérgio Motta, o Serjão, então
ministro das Comunicações.
O jornal Folha de S.Paulo foi o primeiro
a apontar o escândalo e, para ilustrar a sequência de reportagens, criou um
“selo” com a frase: “Reeleição comprada?”
Além de dois governadores, Orleir Cameli (AC) e
Amazonino Mendes (AM), dois deputados, João Maia e Ronivon Santiago, ambos do
PFL, integravam o projeto. Curiosamente, o deputado Maia era um egresso do PT.
Os tucanos mais ortodoxos podem argumentar que o ex-petista inoculou nas
negociações para a aprovação da emenda o vírus da corrupção. Não poderia ser
também resultado do encontro de Maia, já então pefelista, com o peessedebista
Serjão, o fator de formação dessa pororoca venal?
A oposição daquela época, os partidos de
esquerda essencialmente, tinha força reduzida no Congresso e não conseguiu
criar uma CPI para investigar as denúncias. O rolo compressor governista, PSDB,
PFL e PMDB, botou uma pedra sobre a história. Impediu a punição dos culpados.
E, neste caso, a Magistratura não tem culpa. FHC sabe disso.
Mauricio Dias
Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa
de CartaCapital. A versão completa de sua coluna é publicada semanalmente na
revista. mauriciodias@cartacapital.com.br
Fonte
Carta Capital

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