por Luiz Carlos Azenha
Carros fortes. O uso de carros fortes por
envolvidos no esquema do mensalão chama a atenção na denúncia do procurador
Roberto Gurgel, apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Imaginar que
carros fortes eram utilizados para transferir os valores no esquema captura a
imaginação do público.
Porém, os fatos mais graves dizem respeito a uma
acusação frontal, a de que o governo Lula teria comprado a aprovação pelo
Congresso de importantes leis: a reforma tributária, a Lei de Falências e a PEC paralela da Reforma da Previdência, entre
outras.
“Cito apenas a título de exemplo, em primeiro
lugar, a votação da reforma tributária no dia 24 de setembro de 2003. Em 17 de
setembro de 2003, sete dias antes, João Cláudio Genú [ex-assessor do PP na
Câmara], a mando de parlamentares do Partido Progressista, sacou R$ 300 mil da
conta de Marcos Valério no banco Rural. No dia da votação, 24 de setembro, João
Cláudio Genú sacou mais R$ 300 mil. E, no dia 8 de outubro, 14 dias após a
votação, sacou mais R$ 100 mil”, disse Gurgel (transcrição do UOL).
E mais: “No período precedente à votação da lei
de falências, Simone Vasconcelos sacou R$650 mil no Banco Rural, provavelmente
aqueles levados no carro forte”.
Segundo o procurador, o apoio do PTB teria sido
comprado pelo PT por R$ 20 milhões, dos quais Roberto Jefferson recebeu R$ 4
milhões.
Provavelmente para se desculpar antecipadamente
pela falta de provas materiais contra alguns dos acusados, Gurgel disse que uma
quadrilha não age deixando provas e valorizou as provas testemunhais.
Como observou o professor Claudio Pereira, no site da CartaCapital:
17h13 - Roberto
Gurgel sustentou a acusação de formação de quadrilha, a principal, com base em
testemunhas de réus. Para Claudio José Langroiva Pereira, professor-doutor em
Direito Processual da PUC-SP, isso pode fragilizar a acusação contra José
Dirceu, considerado o “chefe da quadrilha” pela PGR. Para Pereira, sem provas
provas documentais, a argumentação da PGR pode ser rejeitada pelo STF.
Em texto divulgado por e-mail, antes da
apresentação de Gurgel, a defesa de José Dirceu alega:
“Sem fatos, sem provas e confuso, o
Ministério Público alegou que, em algumas votações,
alguns parlamentares votaram em datas próximas a alguns saques, mas
ressalvando que alguns ‘traíram o acordo’ e votaram contra o governo.
Nenhum deputado foi nomeado, nenhum ‘traidor’ foi listado e nenhuma votação foi
relacionada. E não houve demonstração de vínculo com as datas
dos saques. Integrantes da CPI dos Correios e da CPI da Compra
de Votos fizeram um cruzamento de dados e concluíram que não havia nenhuma
coincidência entre os saques e a votação. Pelo contrário: após ‘dois
repasses elevados em 2004, caiu o apoio ao governo nas votações’”.
A tese de Gurgel é de que o PT promoveu negócios
fraudulentos envolvendo órgãos públicos, as agências de publicidade de Marcos
Valério e o Banco Rural. Destes negócios, tirou o dinheiro vivo para pagar pelo
apoio parlamentar.
O Banco Rural tinha interesse em levantar a
liquidação extrajudicial do Banco Mercantil de Pernambuco, o que dependia do
Banco Central.
“Segundo o PGR, o Banco Rural tornou-se peça
chave no processo delituoso, financiando parcialmente o esquema, mediante a
simulação de empréstimos bancários no valor de R$ 32 milhões; permitindo a
mistura dos recursos obtidos via empréstimos com dinheiro público desviado por
meio de contratos de publicidade com órgãos públicos; viabilizando a segura
distribuição de recursos em espécie, sem comunicar aos órgãos de controle o
destinatário final; e, por fim, não comunicando as operações suspeitas de
lavagem de dinheiro aos órgãos de controle” (do site do MPF).
Gurgel argumentou que nem Marcos Valério, nem as
empresas dele, nem o PT tinham condições de dar garantias para receber os
empréstimos.
“Ressalte-se que o ganho pretendido pelo Banco
Rural superava em muito o dispêndio que fez em benefício do esquema criminoso.
Conforme documento apresentado pelo Banco Central do Brasil, o ganho do Banco
Rural com o levantamento da liquidação extrajudicial do Banco Mercantil de
Pernambuco superaria a casa do bilhão de reais”, afirmou.
Quanto às provas que sustentam a acusação contra
José Dirceu, Gurgel disse que “não há como negar que, em regra, o autor
intelectual nos chamados crimes organizados age entre quatro paredes, em
conversas restritas com os demais agentes do crime, quando dita os comandos que
guiam as ações dos seus cúmplices. O autor intelectual, quase sempre, não fala
ao telefone, não envia mensagens eletrônicas, não assina documentos, não
movimenta dinheiro por suas contas, agindo por intermédio de ‘laranjas’ e, na
maioria dos casos, não se relaciona diretamente com os agentes que ocupam os
níveis secundários da quadrilha. Lida apenas com um ou outro que atua como seu
interlocutor, não deixando rastros facilmente perceptíveis da sua ação. Assim,
nesses casos, a prova da autoria do crime não é extraída de documentos ou de
perícias mas essencialmente da prova testemunhal, que tem, é claro, o mesmo
valor probante das demais provas”.
Ao final, Roberto Gurgel denunciou que em nenhum
outro caso anterior sofreu tantas pressões, sem ser específico.
O procurador terminou sua apresentação com duas
citações, uma do padre Vieira (perde-se o Brasil, senhor, porque alguns
ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar o nosso bem, vem buscar os nossos
bens) e outra extraída da letra de “Vai Passar”, que Chico Buarque escreveu
durante a ditadura militar (Dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem
perceber que era subtraída, em tenebrosas transações).
A partir de segunda-feira os advogados dos réus
começam a apresentar a defesa.
Fonte
– Blog Viomundo

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