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Severino
Araújo, o querido maestro que comandou por 74 anos a Orquestra Tabajara, morreu
há pouco, 19h do dia 3.8.2012, de insuficiência respiratória, no Rio, aos 95 de idade.
O
velório será amanhã, sábado, ao meio-dia, na capela 7 do Cemitério São
João Batista. Com Severino, também compositor e mago do clarinete, morre
um pedaço da noite carioca. Estava à frente da Tabajara desde 1938.
Por LN
A evolução do choro, no Brasil, foi marcada por
saltos de forma que modernizaram o som sem provocar a ruptura do estilo. O
primeiro, no início do século quando Callado, Chiquinha Gonzaga, Patápio,
Aristides, Bonfiglio e, especialmente, Nazareth começam a dar forma e a
sofisticar sua linguagem.
O segundo, no início dos anos 30, quando passam
a convergir as duas maiores linhagens de música do país: a nordestina, de forte
influência ibérico-árabe, através dos Turunas da Mauricéia,
que vão beber nos sons do sertão; e a negra, através de Pixinguinha, que vai
nadar nas ondas do jazz, juntando com o samba e o choro.
A revolução seguinte do choro ocorre a partir
dos anos 40, fortemente influenciada pela música que vinha dos cassinos. Era
período de guerra e grande parte do turismo internacional europeu baixa no
Brasil. Há forte movimento de capitais que ajuda a criar infra-estrutrura de hotéis, cassinos e balneários que ainda hoje
sustenta o turismo em muitas das estâncias hidrominerais brasileiras. Era esse
circuito dos balneários que criava a escala permitindo a vinda de orquestras de
fora e a proliferação de músicos nacionais.
Nos Estados Unidos o jazz começa a se sofisticar
e tem início a fase de ouro das “big bands”.
O “chic” da época era os bailes em imensos salões, com os
distintos cavalheiros de fraque e as damas de branco.
No Brasil esse período é um dos mais férteis e,
paradoxalmente, dos menos conhecidos da história do choro e da MPB. Vai do
início dos anos 40 até a bossa nova e produziu a mais sofisticada geração de
músicos brasileiros da história.
Nos anos 30 a música
foi liderada por compositores intuitivos. Nos anos 50 e 60 pelos jovens que tocavam
violão como João Gilberto. No período dos festivais por jovens que só depois
viriam a aprender a tocar violão como João Gilberto.
Nos anos 40 até meados dos 50 quem mandou no som
foram maestros, arranjadores, músicos com formação internacional e com
conhecimentosofisticado
de harmonia, liderados pelo som maior de
Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto.
Em São Paulo ajudaram a engrossar esse movimento
músicos como Esmeraldino no cavaquinho, Orlando Silveira no acordeom,
Portinho na clarineta. No Rio, além dos violonistas da rádio Nacional o
intemporalRadamés Gnatalli e seu Quinteto produziram peças clássicas.
Dentre os músicos do período, poucos foram tão
fundamentais como o maestro Severino Araújo, líder da lendária e até hoje
atuante Orquestra Tabajara.
Severino nasceu em nasceu em
Limoeiro, em 1917. Passou pelo enorme celeiro musical de João
Pessoa, Paraíba onde, em 1933, havia sido fundada a Orquestra Tabajara, no
padrão das “big bands” norte-americanas. Quatro anos depois o maestro
ingressou na orquestra, junto com outra mito do
choro, o saxofonista potiguar K-Ximbinho. Logo depois Severino tornou-se o dono da banda.
A formação da Tabajara incluía o maestro, cinco
saxofonistas, quatrotrombonistas, quatro trumpetistas,
dois bateristas, dois percusionistas, um pianista, um baixista, um guitarrista e dois crooners. O
“som” da banda, influenciado por Glenn Miller, consistia na justaposição de
saxofone com clarinete, instrumento do mestre.
Em 1945 Severino e a sua Tabajara mudaram-se para o Rio de Janeiro. Mas sua base cultural sempre
seria a imbatível escola de arranjadores do frevo, o movimento que brota dos
becos de Olinda e Recife e se espraia por todo o Brasil.
No Brasil não houve orquestra que chegasse perto do balanço da Tabajara. Quando o maestro subia ao palco com seu porte pequeno e sua clarineta e começava a reger, ninguém parava quieto. Seu som era tão amplo que nele cabiam todos os sons, dos sambas ao choro, do samba-canção à gafieira, do baião a Sinatra. Por sua orquestra passaram “crooners” do nível de Elizeth Cardoso e Jamelão, ao lado de Hélio Paiva,Cila Fonseca, Déo e Bidú Reis.
No Brasil não houve orquestra que chegasse perto do balanço da Tabajara. Quando o maestro subia ao palco com seu porte pequeno e sua clarineta e começava a reger, ninguém parava quieto. Seu som era tão amplo que nele cabiam todos os sons, dos sambas ao choro, do samba-canção à gafieira, do baião a Sinatra. Por sua orquestra passaram “crooners” do nível de Elizeth Cardoso e Jamelão, ao lado de Hélio Paiva,Cila Fonseca, Déo e Bidú Reis.
Ao mesmo tempo em que ajudava a alargar a cabeça
musical brasileira para os novos sons, Severino produziria a maior inovação do
choro no período, uma revolução harmônica e melódica brilhante, em que a
imprevisibilidade da melodia, as quebradas, o vai-não-vai que já encantara o
mundo através das produções de Walt Disney atinge paroxismos que não
envergonhariam Benny Goodman. “Espinha de Bacalhau”, maior música do mestre, é um
clássico desse estilo.
Profundamente brasileira, a orquestra jamais
perdeu a gana da internacionalidade. “No dia em que a Orquestra
Tabajara deixar de ser internacional eu acabo com ela”, disse o
maestro em entrevista a Wellington Farias. Não
há melhor definição para a geléia geral que moldou a música brasileira do que auto-definição de Severino Araújo: “No Nordeste eu era o maior ‘swingueiro’.
Pegava a música brasileira e transformava em swing, que era a moda. Quando
cheguei aqui para fazer baile, o coração bateu mais forte, o espírito patriota.
Aí peguei a música estrangeira e tocava em ritmo de samba”.
Fonte
– Blog do Nassif

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