Por Denise Moura
O motorista que
oferece uma cerveja para o guarda não multá-lo. O fiscal que cobra uma
"ajuda" do comerciante. O ministro que compra apoio político. A
corrupção está enraizada em vários setores da sociedade brasileira. E nada
disso é recente, segunda a historiadora Denise Moura, que diz que a prática
chegou junto com as caravelas portuguesas.
"Quando Portugal começou a colonização, a
coroa não queria abrir mão do Brasil, mas também não estava disposta a viver
aqui. Então, delegou a outras pessoas a função de ocupar a terra e de organizar
as instituições aqui", afirma a historiadora.
"Só que como convencer um fidalgo português
a vir para cá sem lhe oferecer vantagens? A coroa então era permissiva, deixava
que trabalhassem aqui sem vigilância. Se não, ninguém viria."
Assim, a um oceano de distância da metrópole,
criou-se um clima propício à corrupção, em que o poder e a pessoa se confundiam
e eram vistos como uma coisa só, de acordo com Denise, que é professora de
História do Brasil na Unesp.
No entanto, a historiadora deixa claro que a
corrupção não é uma exclusividade do Brasil, é só uma peculiaridade da formação
dessa característica no país.
"Temos enraizado uma tradição muito forte
de poder relacionado ao indivíduo que o detém", avalia Denise. "E
isso até hoje interfere na maneira como vemos os direitos e deveres desse tipo
de funcionário."
Propina
"A
coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem vigilância. Se
não, ninguém viria"
Denise Moura, historiadora
No Brasil colônia, assim como hoje, a corrupção
permeava diversos níveis do funcionalismo público, segundo a pesquisadora. Na
época, atingia desde o governador, passando por ouvidores, tabeliães e oficiais
de justiça, chegando até o funcionário mais baixo da Câmara, que era uma
espécie de fiscal de assuntos cotidiano.
A historiadora conta que documentos mostram esse
funcionário protegendo ou favorecendo um vendedor mediante propina.
Se a corrupção encontrou um terreno fértil nas
instituições políticas do litoral, a situação era ainda mais grave na
colonização de regiões como Minas Gerais, Goiás e o sul do país.
Ainda mais longe dos olhos da coroa, esses locais
só eram acessíveis após meses de caminhada - o que exigia ainda mais incentivos
para os "fidalgos-desbravadores".
"A coroa portuguesa estimulava pessoas e
dizia: 'vão para o interior e podem mandar à vontade por lá', na tentativa de
garantir a soberania do império com alguém morando no local", diz Denise.
A escravidão, segundo a historiadora, também
contribuiu para o desenvolvimento da corrupção no país. Isso porque era a única
relação de trabalho existente, deixando o trabalho livre sem qualquer tipo de
norma para regê-lo.
Essa realidade criava um ambiente vulnerável, em
que não era claro, por exemplo, os deveres de um guarda municipal - abrindo, de
novo, possibilidade de suborno e outros tipos de corrupção.
Fonte
– BBC Brasil
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