Relator da Ação Penal
470 assume o comando do Poder Judiciário no dia 22 deste mês com pompa e
circunstância; aparentemente, Dilma vai, mas nada impede que Joaquim Barbosa,
dias depois da foto oficial com a presidente, aceite a proposta de delação
premiada de Marcos Valério contra o ex-presidente Lula; decisão é uma das mais
arriscadas de um governo que se equilibra entre a lealdade a Lula e seus
compromissos institucionais
247 - O dia 22 de novembro é a data marcada para que Joaquim
Barbosa assuma a presidência do Supremo Tribunal Federal e o comando do Poder
Judiciário no Brasil. Relator da Ação Penal 470, Barbosa já foi criticado pelos
próprios colegas da corte e também por advogados dos réus, que o enxergam como
carrasco inquisidor, e não como juiz. Nas mãos dele, repousa um documento
explosivo: o pedido de Marcos Valério, pivô do mensalão, para que faça parte do
Sistema Nacional de Proteção a Testemunhas e para que seja beneficiado com a
delação premiada. Segundo frases atribuídas a Valério pela revista Veja, o
ex-presidente Lula seria o "chefe" do mensalão e teria também sido
chantageado por personagens ligados ao assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito
de Santo André. Cabe ao futuro presidente da corte definir o que fazer em
relação a isso.
Barbosa também tem em suas mãos alguns convites especiais para a
sua posse. Ele já solicitou um pedido oficial de audiência ao Palácio do
Planalto para que pudesse entregá-los pessoalmente à presidente Dilma Rousseff
-- o que não se confirmou. Não há, portanto, uma foto oficial de Barbosa ao
lado de Dilma, no momento emblemático em que ex-presidentes do PT, como José
Dirceu e José Genoino, estão sendo condenados e tendo suas penas definidas pelo
Supremo Tribunal Federal.
De um lado, Dilma tem sido pressionada a não comparecer à posse de
Joaquim Barbosa, tanto pelo ex-presidente Lula, como por quadros do Partido dos
Trabalhadores. Seria um "recado" em relação ao "julgamento de
exceção" conduzido por Joaquim Barbosa. De outro, é pressionada a
comparecer. Sua ida foi anunciada ontem, no jornal O Globo, pelo colunista
Jorge Bastos Moreno e comemorada neste domingo, com "alívio", por
Merval Pereira. Seria uma obrigação institucional.
Ocorre que a posse de Joaquim Barbosa ocorre num momento em que o
ex-presidente Lula é alvo de uma caçada impiedosa, uma "guerra sem
fim", como definiu o ex-porta-voz da presidência, Ricardo Kotscho. E nada
impede que Joaquim Barbosa, instantes depois da foto oficial com a presidente
Dilma, que estará estampada em todos os jornais, crave uma estaca no peito de
Lula, oferecendo a delação premiada a Marcos Valério, bem como a proteção pelo
suposto risco de morte que o empresário estaria correndo. Dilma seria elogiada,
como uma presidente que não foge aos compromissos institucionais, e Lula será,
mais uma vez, duramente atacado.
O que será da relação dos dois depois disso, se essa hipótese vier
a se confirmar, é um mistério. Mas Dilma vem se equilibrando entre as pressões
que recebe de todos os lados da sociedade. Quando o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso comemorou seus 80 anos, ela enviou uma carta gentil e educada.
Depois, quando Lula foi alvo de ataques de FHC, Dilma criticou, em nota, o
"ressentido" ex-presidente. Recentemente, ela também se manifestou de
forma contrária à demissão de José Genoino, ganhando aplausos do PT. Mas sua
ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, avalizou as decisões do STF.
Entre os dias 16 e 19 de novembro, Dilma estará na Espanha.
Comparecer à posse de Joaquim Barbosa não é exatamente uma obrigação e ela
poderia ser representada pelo vice Michel Temer. Tanto não é algo obrigatório,
que, no julgamento da Ação Penal 470, o ministro Marco Aurélio Mello lembrou
ter sugerido ao ex-presidente Lula, por meio do senador Renan Calheiros, que
não fosse à sua posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Isso porque
faria um duro discurso contra o PT, que foi lido, novamente, durante o
julgamento. E Lula, a pedido de Marco Aurélio, não foi.
Dilma pode ir, como não ir. Mas será uma das decisões mais
arriscadas no exercício da presidência.
Fonte – Brasil247
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