BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse à presidente Dilma Rousseff que o empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza está "blefando" ao ameaçar envolvê-lo no escândalo
do mensalão e o desafiou a apresentar provas. Para Lula, o relator do processo,
Joaquim Barbosa, tem razão quando descreve Marcos Valério como
"jogador".
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Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
"Eu nunca estive com esse cidadão",
afirmou Lula. Na conversa de quase quatro horas com Dilma, pouco antes do
jantar de confraternização promovido na terça-feira, 6, por ela com ministros,
senadores e deputados do PT e do PMDB, no Palácio da Alvorada, o ex-presidente
garantiu não haver motivo para preocupação com as ameaças de Marcos Valério.
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 40
anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa,
peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, o empresário prestou
depoimento em setembro ao Ministério Público Federal, como revelou o Estado.
Investigadores que acompanharam o depoimento,
mantido em sigilo, contaram que Marcos Valério citou Lula, o chefe da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e o ex-ministro da Casa Civil
Antonio Palocci. Segundo o Ministério Público, o empresário fez revelações
sobre o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), ocorrido em
2002. Apontado como operador do mensalão, ele também mencionou outras remessas
de recursos para o exterior e prometeu dar detalhes sobre a acusação, se for
incluído no programa de proteção à testemunha.
"Marcos Valério está fazendo chantagem. Se
ele tem algo a exibir, que exiba. Se não mostrou nada, até agora, é porque não
tem", afirmou o advogado Sigmaringa Seixas, ex-deputado do PT.
Sigmaringa também conversou com Lula na
terça-feira, quando ele esteve em Brasília para o encontro com Dilma. "As
próprias pessoas que Marcos Valério diz que vai procurar já devem ter
compreendido que ele é um blefador", insistiu Sigmaringa. "Ele está
desesperado e uma pessoa nesse estado fala qualquer coisa para reduzir a sua
pena", emendou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).
Apesar de minimizar o depoimento de Valério,
Lula avalia que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do PT
José Genoino devem se preservar. No seu diagnóstico, o STF tende a aplicar
penas muito duras contra os petistas e qualquer declaração pode prejudicá-los.
Foi por esse motivo que Lula pediu à cúpula do PT, na semana passada, o
arquivamento de um manifesto de apoio aos réus do mensalão.
Investigação. Na
esteira das denúncias de Marcos Valério, integrantes da oposição pediram à
Procuradoria-Geral da República, na terça-feira, a abertura de inquérito para
investigar se Lula participou do mensalão.
Assinada pelo PPS e por três tucanos, a
representação rachou a oposição e não teve aval do DEM nem da cúpula do PSDB.
"Nós estamos diante de um mensalão 2 e fizemos o nosso dever",
resumiu o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE).
Em conversas reservadas, nos últimos dias, Lula
tem afirmado que a população deu, nas urnas, a resposta contra a sentença
aplicada aos petistas no julgamento do mensalão, elegendo 633 prefeitos do PT
no País. A maior vitória do partido foi em São Paulo, com o calouro Fernando
Haddad. Em nota divulgada na semana passada, Gilberto Carvalho disse nunca ter
tido contato com Marcos Valério "nem pessoalmente, nem por e-mail,
telefone ou qualquer outro meio". Palocci não comentou a acusação.
Fonte
– Estadão.com.br
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