Blogueiro de
Veja.com, que já foi um dos principais críticos da conduta de Joaquim Barbosa,
que, segundo ele, acusava sem provas e submetia instituições ao vexame, agora o
defende contra ataques racistas promovidos pelo PT; Reinado quer ainda que José
Dirceu seja impedido de se pronunciar sobre o caso
247 - O
sempre polêmico Reinaldo Azevedo publicou, neste sábado, mais um texto que não
foge à tradição. Diz ele que Joaquim Barbosa é vítima de racismo do PT e sugere
ainda que José Dirceu seja calado e fique impedido de se manifestar sobre o
julgamento da Ação Penal 470. Antes deste processo, Reinaldo era um dos
principais críticos de Joaquim Barbosa, pois dizia que sua conduta era
"incompatível com Supremo, com a democracia e com o estado de
direito". Um ministro, dizia, "não acusa sem provas nem submete as
instituições ao vexame".
Leia o texto de hoje de Reinaldo:
A
questão sempre rondou as más consciências, era enunciada de modo oblíquo,
falada nos cantos, nos becos, nas bocas, nas tocas — como diria o sambista… Era
sugerida, mas jamais pronunciada. Ontem, finalmente, o ainda deputado João
Paulo Cunha (PT-SP), condenado por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, rasgou a fantasia e o verbo, revelou o que realmente pensa o PT,
deixou aflorar seu [do partido] racismo asqueroso e primitivo. Inconformado com
a atuação do ministro Joaquim Barbosa, que assumiu nesta quinta a presidência do
STF, Cunha mandou ver: “[Barbosa] Chegou [ao Supremo] porque era
compromisso nosso, do PT e do Lula, de reparar um pedaço da injustiça histórica
com os negros”.
Que
nojo de João Paulo Cunha!
Já
explico onde estava este senhor quando vomitou o racismo de seu partido. Quero
me ater um pouquinho ao conteúdo de suas palavras porque elas provam, por A
mais B, algumas considerações que andei fazendo neste blog, ao longo dos anos,
sobre a questão racial.
No
dia 11 de outubro de 2011,
escrevi um texto sobre a relação que o PT mantém com as chamadas minorias. Lá
se pode ler este trecho (em azul):
Será mesmo o PT um partido especialmente afeito à defesa das mulheres, dos negros, dos gays, dos direitos humanos – de grupos e temas, enfim, que seriam discriminados pela sociedade “reacionária”? Uma ova! Essa gente tem é um desprezo solene por todas essas causas e só as utiliza como instrumento de sua luta pelo poder. O PT defende, sim, o negro, desde que esse negro carregue a bandeira do partido – se não for assim, o sujeito é acusado de “preto de alma branca”. O PT defende, sim, a mulher, desde que ela carregue a bandeira do partido – se não for assim, ela é acusada de agente de machismo. O PT defende, sim, os gays, desde que o gay carregue a bandeira do partido; se não for assim, ele será acusado de bicha reacionária.
Será mesmo o PT um partido especialmente afeito à defesa das mulheres, dos negros, dos gays, dos direitos humanos – de grupos e temas, enfim, que seriam discriminados pela sociedade “reacionária”? Uma ova! Essa gente tem é um desprezo solene por todas essas causas e só as utiliza como instrumento de sua luta pelo poder. O PT defende, sim, o negro, desde que esse negro carregue a bandeira do partido – se não for assim, o sujeito é acusado de “preto de alma branca”. O PT defende, sim, a mulher, desde que ela carregue a bandeira do partido – se não for assim, ela é acusada de agente de machismo. O PT defende, sim, os gays, desde que o gay carregue a bandeira do partido; se não for assim, ele será acusado de bicha reacionária.
Bingo!
Pensemos
na enormidade da fala de João Paulo, que representa o pensamento da ampla
maioria do PT e de Lula — que também já andou cochichando essa ignomínia por aí
em versos, trovas e palavrões, como é de seu hábito.
Na
formulação petista, Joaquim Barbosa não chegou ao Supremo por seus méritos, mas
porque é preto. Assim, quem o nomeou ministro foi a vontade de Lula, que lhe
teria prestado, então, um favor, fazendo uma concessão a uma “raça” — afinal,
sabem como é, o PT é contra as injustiças… Mais: por ser negro, Barbosa estaria
impedido de julgar segundo os autos, as leis e a sua consciência. A cor da pele
lhe imporia, logo à partida, um determinado conteúdo. É por isso, ministro
Joaquim Barbosa, que critiquei tão duramente a
resposta que Vossa Excelência deu a um repórter. Ainda que ele pudesse estar
fazendo uma provocação, condicionar a visão de mundo das pessoas à cor de sua
pele é manifestação do mundo das trevas intelectuais, que é de onde parte a
fala de João Paulo.
Lula,
o PT e os petistas esperavam um negro grato, de joelhos, beijando a mãos dos
nhonhôs. Queriam um Joaquim Barbosa doce como uma negro forro, que se
desfizesse em amabilidades com o seu ex-senhor e se sentisse feliz por ter sido
um dos escolhidos da senzala para receber o galardão da liberdade. Em vez
disso, o que se tem, na visão dos petistas, é um negro ingrato, que decidiu
olhar a lei, não quem o nomeou; que decidiu se ater aos crimes cometidos pelos
réus, não à cor de sua própria pele; que decidiu seguir as regras do estado
democrático e de direito, não o projeto de poder de um partido.
Negro
filho da mãe!
Negro traidor!
Negro que não carrega bandeira!
Negro vira-casaca!
Negro ingrato!
Negro negro!
Negro traidor!
Negro que não carrega bandeira!
Negro vira-casaca!
Negro ingrato!
Negro negro!
Não
é de hoje, certamente, que Barbosa recebe pressões. Agora entendo com mais
precisão uma resposta que deu numa entrevista concedida à Folha em 2008:
“Engano pensar que sou uma pessoa que tem dificuldade de relacionamento, uma pessoa difícil. Eu sou uma pessoa altiva, independente e que diz tudo que quer. Se enganaram os que pensavam que, com a minha chegada ao Supremo Tribunal Federal, a Corte iria ter um negro submisso. Isso eu não sou e nunca fui desde a mais tenra idade. E tenho certeza de que é isso que desagrada a tanta gente. No Brasil, o que as pessoas esperam de um negro é exatamente esse comportamento subserviente, submisso. Isso eu combato com todas as armas.”
“Engano pensar que sou uma pessoa que tem dificuldade de relacionamento, uma pessoa difícil. Eu sou uma pessoa altiva, independente e que diz tudo que quer. Se enganaram os que pensavam que, com a minha chegada ao Supremo Tribunal Federal, a Corte iria ter um negro submisso. Isso eu não sou e nunca fui desde a mais tenra idade. E tenho certeza de que é isso que desagrada a tanta gente. No Brasil, o que as pessoas esperam de um negro é exatamente esse comportamento subserviente, submisso. Isso eu combato com todas as armas.”
Voltemos
a João Paulo e aos petistas. Assim como um escravo dependia da boa vontade de
seu dono para obter a alforria, esses meliantes morais estão a dizer que
Barbosa dependeu da boa vontade de Lula para ascender ao Supremo. Como ele ousa
jogar a lei na cara daquele que tem a certeza de que lhe fez um favor e uma
concessão?
Raramente
um negro foi tão ofendido por um partido! Raramente os negros como um todo
foram tratados com tanto desdém. Que desastre moral para boa parte dos
movimentos negros, que certamente se calarão porque funcionam como esbirros do
petismo! Este, se querem saber, é o pior de todos os racismos. A besta ao
quadrado que sai por aí a vomitar injúrias raciais de modo explícito não é, ao
menos, cínica. Os que cobram de um negro a fatura por tê-lo nomeado para a
corte suprema do país — onde a única coisa decente a fazer é ser independente —
deixam claro que usam as causas apenas como instrumento de poder.
O
PT é craque nisso! Lembrem-se que campanhas eleitorais de Lula e de Dilma
reuniram cotistas e bolsistas do ProUni — um programa federal, que não pertence
ao governo, mas ao Estado — para que expressassem a sua gratidão a seus
“benfeitores”, a seus “donos”, a seus nhonhôs… O país do PT não é aquele dos
homens livres. O partido só entende a linguagem da ordem e do pau-mandado, como
sabe o relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), que entrega a redação
do relatório ao comando de seu partido para que tente as suas vendetas.
Barbosa
que se cuide! O ódio dessa gente não é pequeno. A qualquer momento a sua
reputação pode ser alvo de um franco-atirador do mundo das denúncias.
Achincalhe
da Justiça
João Paulo disse aquela enormidade numa “plenária” feita em Osasco para satanizar o STF e declarar a inocência dos mensaleiros, a que compareceram José Dirceu e José Genoino. Rui Falcão, presidente do PT, e os deputados Jilmar Tatto (SP), líder do PT na Câmara, e Arlindo Chinaglia (SP), líder do governo na Casa, faltaram.
Dirceu
pregou abertamente o confronto com o Supremo. Mais do que isso: segundo
entendi, quer o tribunal submetido a júri popular, à moda maoísta: segundo ele,
o PT deve ir às ruas para “fazer o julgamento do julgamento”. Huuummm… Quanto
mais trela lhe dá o jornalismo que lhe serve de porta-voz, mais valente ele
fica. Daqui a pouco, o Marcola e o Fernandinho Beira-Mar também proporão formas
de luta contra o Judiciário.
Dirceu
deixou claro que não aceita as decisões da Justiça de seu país.
Conclamou: “É preciso ir as ruas, discutir, debater o que esta
acontecendo. Não aceitamos. Estamos revoltados e indignados e somos vítimas de
um julgamento injusto”. É evidente que o homem ultrapassou a linha da
crítica e do direito a manifestações. Está pregando abertamente a
resistência a uma decisão da Justiça. E isso, como sabem, é crime!
E leia o texto de quando Reinaldo não era
propriamente um admirador de Joaquim Barbosa:
É
inútil entrar no meu blog para tentar defender Joaquim Barbosa. Inútil porque
os comentários serão eliminados. Não flerto com quem desrespeita as
instituições. Não endosso atuações destrambelhadas. Não vou engordar a área de
comentários com o papo-furado da canalha que tem seus próprios blogs. A fala de
Joaquim Barbosa é incompatível com o Supremo, com a democracia e com o estado
de direito. Um ministro do Supremo não acusa sem provas nem submete as
instituições ao vexame.
Aqui
não passa!
Que
essa gente vá procurar sua turma!
Acho
que eu não poderia ser mais claro. Este blog tem lado! O do estado democrático
e de direito, que Gilmar Mendes vem defendendo com coragem e desassombro. Ainda
que Barbosa fosse um príncipe do direito, o que não é, consideraria a sua
atuação intolerável. Os tontons-maCUTs não percam o seu tempo.
Por
Reinaldo Azevedo
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