Eurípedes Alcântara, diretor de Veja, iguala, em sua
Carta ao Leitor desta semana, a entrevista de Pedro Collor feita 20 anos atrás,
não apenas gravada como também filmada, à “entrevista” de Marcos Valério, sem
áudio e sem fita, da semana passada. Diz ele que tem “o mesmo grau de certeza”,
o que equivale a tratar o leitor como paspalho, pois quem deve ter certeza é
quem lê, e não quem publica (e, ao mesmo tempo, faz política)
247 – Num artigo brilhante, o ex-diretor de Redação de Época e Exame, Paulo Nogueira, explica por que os veículos tradicionais de mídia vêm perdendo influência a cada ano. Por uma razão simples: seus editores e patrões tratam o leitor como se fosse bobo (leia mais aqui).
É o caso de Eurípedes Alcântara, diretor de Redação de Veja, que, em sua Carta ao Leitor, iguala a entrevista de Pedro Collor, que ajudou a provocar o impeachment de seu irmão Fernando Collor há 20 anos, à “entrevista” de Marcos Valério, publicada na semana passada.
A primeira, feita pelo jornalista Luís Costa Pinto, não apenas foi gravada, como também filmada, com o consentimento do entrevistado. A segunda, bom, esta não tem áudio, não tem fita e já foi negada pelo próprio Marcos Valério.
Apesar disso, Eurípedes deu um título emblemático à sua Carta ao Leitor, ilustrada com imagens das duas capas: “O mesmo grau de certeza”. Ou seja: para ele, “Lulla” é tão culpado quanto Collor. Alguém tem que explicar para Eurípedes que quem deve ter certeza é o leitor – e não o editor que, ao mesmo tempo em que publica, também faz política escancaradamente.
Leia o editorial de Veja desta semana:
O mesmo grau de certeza
Foi extraordinária, em todos os
sentidos, a repercussão da reportagem de capa de VEJA da semana passada, com o
publicitário mineiro Marcos Valério, o pivô financeiro do mensalão. VEJA trouxe
revelações bombásticas de Valério sobre o papel central do ex-presidente Lula
nas operações que resultaram em um escândalo que, por pouco, não lhe custou o
mandato presidencial.
O ex-presidente Lula manteve-se
calado. Marcos Valério também não se pronunciou. São dois casos de silêncio
ensurdecedor.
Em contraste, os partidos da base
de sustentação do governo protestaram e os de oposição emitiram notas exortando
VEJA a tornar públicas as evidências materiais que embasaram a publicação das
contundentes declarações do publicitário mineiro.
Os partidos que enxergaram nas
revelações de Marcos Valério vantagens políticas podem proceder como quem
vislumbrou essas mesmas propriedades no depoimento de Pedro Collor trazido a
público vinte anos atrás e que culminaram com o impeachment do irmão, Fernando
Collor.
Da mesma forma, quem se sentiu
prejudicado pela divulgação das informações do homem do dinheiro do mensalão
tem a possibilidade de interpelá-lo publicamente ou procurar reparação na
Justiça. Marcos Valério está vivo e tem endereço conhecido. A mensagem é de
Marcos Valério. VEJA foi a mensageira.
O grau de certeza de VEJA em
relação ao conteúdo da reportagem com Marcos Valério é o mesmo que a revista
tinha quando publicou, em 1992, a capa “Pedro Collor conta tudo”. Tanto em um
caso como no outro, VEJA cumpriu sua missão de informar com fidelidade, coragem
e espírito público fatos testemunhados por pessoas com grande intimidade com o
poder.
Existe outro paralelo entre a
reportagem de VEJA com Pedro Collor e a de agora com Marcos Valério. Ambas são
estrondosas por reunirem declarações que deram materialidade a situações sobre
as quais já tinham sido levantados diversos detalhes significativos, porém
esparsos. Ficava faltando um demiurgo com informações privilegiadas capaz de
amarrar todos os eventos, dando-lhes coerência. Foi o que Pedro Collor fez em
1992 e, na semana passada, Marcos Valério.
É isso aí. Eurípedes Alcântara trata seu leitor como uma pessoa incapaz de raciocinar e de diferenciar o que é política e o que é jornalismo.
Fonte – Blog do saraiva
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