Julgamento do
mensalão foi um "teatrinho" criado pelo presidente do STF, diz a colunista
da Folha: "Havia ali o papel do bandido, do mocinho, tinha a pecha de
'maior julgamento da história' e havia até a certeza indiscutível de que
viríamos um final feliz"
247 - O
julgamento da Ação Penal 470, o 'mensalão', foi um "teatrinho" criado
pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, com direito a
mocinho, bandido e - ainda não sabemos, mas - a certeza que de teríamos um
final feliz. Essa é a visão da jornalista Barba Gancia, colunista da Folha de
S.Paulo. Sobre o acórdão, ela conclui, com base na opinião de juristas, uma vez
que ela não entende de direito: "existe ali mais populismo jurídico do que
competência de fato".
Leia abaixo:
Só teatro
Parece que Joaquim Barbosa anda irrequieto.
Alega que um carro preto cheio de homens deu para rondar sua casa. Hmmmm. Na
minha modestíssima opinião, podem ser asseclas do Pinguim ou, quem sabe, do
Coringa. Mas eu não descartaria algum estratagema terrível da Mulher Gato
--nunca se sabe, daquela felina pode-se esperar qualquer coisa.
Quinzão não anda vendo espectros gratuitamente.
Teme a hipótese de que o plenário do STF decida em favor de recursos que
favoreçam os réus do mensalão que tiveram quatro votos a favor.
Joaquim Barbosa, super-herói da nação, salvador
da pátria varonil, azul e anil, não admite hipótese que assegure os direitos
dos 37 réus que ele reuniu em um só corpo e julgou simultaneamente. Batman quer
jogar todos na cadeia já. Caso contrário estaríamos incorrendo em privilégio de
poucos, estaríamos entrando no terreno da "impunidade".
Mas, vem cá: foram quatro os juízes que
levantaram dúvidas razoáveis acerca da culpabilidade dos réus, não foram? E,
que se saiba, há mais de 800 anos a possibilidade de recurso vem sendo
assegurada por lei, certo? Não será a entrada desenhada de luva de Barbosa em
campo na disputadíssima contenda do Fla-Flu que irá satisfazer a sede de
punibilidade a qualquer custo por parte da torcida, não?
Em 20 ou 30 anos, quando o contexto político for
outro; a composição do STF for outra e, quem sabe, a temperatura for mais baixa
nas áreas da banca em que ficam empilhadas as revistas semanais, as pessoas
quem sabe se darão conta de que o acórdão, a sentença final do mensalão, é um
documento sem pé nem cabeça, sem sustentação alguma, sem lógica interna, e que
não foi a "impunidade" que o fez naufragar, mas sua falta de
coerência.
QUEM SABE.
Desde o dia 1º venho martelando que a peça é
capenga. Não, não entendo xongas de direito. Eu mais os milhões de fãs de
Barbosa que ficaram meses com o nariz grudado na TV vendo o juiz em ação --sem
revide da defesa, diga-se. Mas muito especialista que examinou a papelada
reconhece que existe ali mais populismo jurídico do que competência de fato
--foram 37 réus julgados de uma vez só por crimes diversos, onde já se viu uma
coisa dessas?
Ora, ora, por que será que vários ministros
retiraram suas considerações da versão final da sentença, não é mesmo, juiz
Fux? O caro leitor já tentou ler o documento? Também não li. Mas quem teve de
se debruçar sobre a obra atesta que ela não diz lé com cré.
Em sua sentença, um juiz precisa deixar claro
para a sociedade os motivos que o levaram a chegar às suas conclusões. No
processo do mensalão, Joaquim Barbosa fabricou um teatrinho que criou na
sociedade brasileira uma série de falsas expectativas. Havia ali o papel do
bandido, do mocinho, tinha a pecha de "maior julgamento da história"
e havia até a certeza indiscutível de que viríamos um final feliz.
Agora, quem criou todas essas esperanças, quem
usou de fígado em vez de ciência, quem deu um chute no traseiro da oportunidade
histórica e será o responsável pela frustração de um país inteiro, além de
reforçar uma perigosa polarização entre correntes de esquerda e direita, é o
mesmo homem capaz de se dizer tão desencantado com o sistema a ponto de
abandonar a toga e se candidatar a presidente. Duvida? Bem, depois não diga que
não foi avisado...
Fonte
– Brasil247
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