Sempre acima dos demais, nas fotos oficiais divulgadas pelo STF, Joaquim Barbosa insinua com o gesto nada protocolar uma postura majestática que passa mensagem de desapreço pela democracia entre iguais; se até a rainha Inglaterra, o presidente dos Estados Unidos e os presidentes do Brasil recebem convidados em posição de igualdade, o que está por detrás da pose de superioridade física do presidente do STF, invariavelmente de pé diante dos convidados sentados?; desculpa da dor de coluna não cola; mais parece um jeito subliminar de dizer que se é superior a tudo e todos
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Nos ambientes institucionais do mundo todo, especialmente no âmbito dos poderes
públicos, mas também nos espaços da iniciativa privada, regras de protocolo e
cerimonial existem para estabelecer padrões de tratamento. Regulam as relações
entre anfitriões e convidados, normatizam modos de se comportar corretamente,
procuram, assim, facilitar o bom entendimento e promover a fruição do conteúdo
central de cada ocasião.
Em países africanos, por exemplo, um executivo
estrangeiro que chega a uma fábrica local é guiado pela mão, literalmente, por
seu anfitrião durante o passeio de conhecimento de instalações. Trata-se, ali,
de uma prova de falta de consideração recusar o gesto e prosseguir caminhando
livremente. Prenúncio de negócio que não será fechado.
Nos Estados Unidos, no endereço 1600
Pennsylvania Avenue – a Casa Branca --, o presidente, independentemente de ser
democrata ou republicano, recebe seus convidados do mesmo status ao pé da
lareira da salão oval, onde ambos se sentam em cadeiras iguais, com o visitante
do lado esquerdo. É por isso que, invariavelmente, quando são divulgadas fotos
de encontros formais, os dois mandatários, tanto o estrangeiro de um país
pobre, emergente ou rico, e o presidente da maior potência econômica e militar
da terra aparecem no mesmo plano.
Ciosos de regras ainda mais rígidas, os
soberanos do Reino Unido, representantes da mais antiga realeza do planeta,
igualmente obedecem a normas de comportamento que os levam a ficar no mesmo
nível de seus recepcionados. É assim que não há hipótese de o Palácio de
Buckingham divulgar uma foto de um chefe de Estado visitante em posição
inferior à da Rainha Elizabeth II. Ambos serão vistos na mesma posição física.
No Brasil, regras de protocolo e cerimonial são
comumente observadas em grandes ambientes institucionais. O presidente da
República espera, no alto da rampa do Palácio do Planalto, por um presidente
que chega em visita oficial. Este subirá a rampa ladeado por um pelotão em
posição de sentido dos Dragões da Independência. No gabinete de trabalho do
terceiro andar, os mandatários brasileiros se deixam fotografar ao lado de seus
visitantes com ambos sentados em poltronas próximas dos grandes janelões
desenhados por Oscar Niemeyer.
No Senado Federal, o presidente do Congresso
divide um mesmo sofá com quem recebe, e nele, igualmente nivelado na mesma
posição do recepcionado, sempre sentado, permite a feitura de imagens oficiais.
No STF, porém, passou a ser diferente desde a
chegada ao cargo de presidente do juiz Joaquim Barbosa. Talvez confundindo o
nome da instituição da qual ocupa a posição principal – Supremo Tribunal
Federal – como se este indicasse um poder superior aos demais ou, de outra
parte, fazendo questão de emergir das imagens oficiais como um ente realmente
superior, o certo é que Barbosa anda rasgando o protocolo e pisoteando as
regras de cerimonial. Assim, anda fazendo as suas próprias leis de
comportamento, das quais sobressai invariavelmente maior, mais forte, mais
poderoso que qualquer um que ele próprio recebe.
Com este comportamento majestático, no entanto
nada nobre, deliberada ou acidentalmente Barbosa vai passando à sociedade, a
cada vez que se deixa fotografar de pé, com seus dois metros de altura
ampliados sobre os convidados, a imagem de que ele é, sim, superior a todos e
cada um de seus interlocutores. A alegação de que precisa ficar de pé em razão
de suas crônicas dores de coluna não se aplica, uma vez que os fotógrafos e
cinegrafistas oficiais e dos veículos de comunicação têm apenas três minutos
para registrar cenas oficiais no gabinete do presidente do STF. Não seria por
aí que, ao sentar-se e colocar-se, com o respeito necessário à posição dos
anfitriões, que Barbosa teria de voltar a licenciar-se para tratamentos no
Brasil e no exterior. Ao contrário, o gesto protocolar de humilde nivelamento
passaria, sem ruídos de qualquer ordem, a mensagem implícita de que na
presidência do STF está um personagem institucional que respeita costumes e,
dentro deles, recebe seus convidados ou aos que foram até ele com questões que
toda ordem.
Ao, invariavelmente, procurar se sobressair
espacialmente diante dos que entram em seu gabinete, especialmente, no momento
presente, políticos que têm frequentado o STF com pedidos nada ortodoxos, como
fez ontem a presidenciável Marina Silva ao buscar resolver no chamado 'tapetão'
da Justiça a falta de votos que sua confusa articulação partidária apresenta no
Congresso, Joaquim Barbosa quer mesmo se mostrar acima dos demais. É como se
passasse o recado, no melhor estilo Luís 14, de que a Justiça é ele, assim como
o monarca francês se considerou um dia o próprio Estado.
Para uma sociedade democrática, respeitadora de
regras, a melhor lição que fica quando pessoas procuram, de um modo ou outro,
com maior ou menor sutileza, se sobrepor às instituições, é a de que estas
ficam, enquanto as pessoas passam. Em nome da instituição que preside,
patrimônio da democracia brasileira construída arduamente, Joaquim Barbosa
sinta-se convidado por 247 a respeitar mais rigidamente o bom protocolo e o
correto cerimonial, sob pena de dar a entender que procura ser muito maior do
que é, maior que todos os demais, maior que a própria democracia. Senta,
Barbosa!
Fonte – Brasil247
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